
O cepticismo de David Hume é mitigado, isto é, moderado.
E porquê?
Em primeiro lugar, Hume rejeita todo o cepticismo radical, seja o cartesiano – porque desconfiar totalmente das nossas faculdades inviabiliza o recurso a qualquer forma de evidência como a do cogito para ultrapassar essa desconfiança – seja o pirrónico – porque duvidar de tudo o que não podemos justificar torna impossível qualquer forma de acção.
Hume, no entanto, embora não considere necessário rejeitar tudo aquilo que não conseguimos justificar, considera haver razões para avançar com cautela na investigação.
E isto porque estabeleceu as seguintes conclusões:
• somos incapazes de justificar a crença de que a Natureza é uniforme – inerente a todas as nossas inferências causais (princípio da causalidade);
• somos incapazes de justificar a crença de que o mundo exterior é real, pois não conseguimos demonstrar que as nossas percepções são causadas por objectos reais – e sem isto não podemos ter a certeza da verdade das nossas ideias.
Em consequência disto, devemos ter consciência dos limites do nosso entendimento e evitar não só o dogmatismo (a confiança cega na possibilidade de obtermos conhecimento), mas também todas as questões cujo carácter excessivamente especulativo torna impossível a certeza de existir correspondência entre uma ideia e uma impressão que estaria na sua origem.
A importância desta posição de Hume pode ser sublinhada pelo facto de Kant (séc. XVIII), um dos maiores filósofos europeus de todos os tempos, ter afirmado que David Hume o despertou do seu sono dogmático: tal despertar esteve na origem de toda a sua investigação filosófica dos limites do conhecimento humano.