6.06.2008

Pedra Filosofal


AQUI
E chegámos ao fim.
Como podem ver, há trabalhos muito diversos em extensão e profundidade. São também diversos na capacidade crítica e no grau de esforço envolvido. Alguns apenas precisaram de pequenos aperfeiçoamentos. Outros precisaram de cortes profundos e muita reciclagem. Alguns usam as fontes da maneira certa. Outros nem por isso...
Mas, de um modo ou de outro, todos procuraram corresponder ao desafio.
Fechamos com um belo poema de António Gedeão - poeta que também foi um grande professor - cantado por Manuel Freire.

Aqui fica o nosso Pórtico. Feito por todos nós.
Foi estimulante trabalhar convosco.
Obrigada!

Indução e verificabilidade


O método científico pode ser interpretado como hipotético-dedutivo ou como indutivo, consoante a perspectiva de que se partir.

Segundo a perspectiva hipotético-dedutiva, é o problema que deve levar à formulação de uma teoria. O cientista, com a hipótese, tem dois objectivos: explicar um facto e prever outros acontecimentos dele decorrentes. A hipótese deverá ser testada em experiências laboratoriais controladas e, se os resultados obtidos pelos pesquisadores comprovarem perfeitamente a hipótese, então ela será aceite como uma teoria.

A concepção indutiva do método baseia-se no princípio de que os casos ainda não observados serão semelhantes aos que já foram observados. A observação é o ponto de partida para as generalizações teóricas. O grau de confirmação de uma hipótese depende do número de casos observados que estão de acordo com ela.

A indução resume-se a três teses fundamentais:

1. A observação é o ponto de partida da investigação científica;
2. As teorias científicas são elaboradas mediante um processo de generalização indutiva;
3. Depois de a teoria ter sido elaborada tenta-se encontrar confirmações indutivas mais vastas, como também, utilizar a teoria na procura de generalizações mais vastas.


O chamado "Problema de Indução" tem a sua autoria associada a David Hume e pode ser enunciado nos seguintes termos:

Uma inferência é indutiva quando ela parte de casos singulares ou particulares, tais como fenómenos observados ou experimentados, para enunciados universais, tais como hipóteses ou teorias.
Mas, de um ponto de vista lógico e racional, é difícil justificar como verdadeiro e universal um enunciado que parte apenas da observação de casos singulares, mesmo que numerosos, pois o argumento indutivo pode levar a conclusões falsas mesmo com premissas verdadeiras. Por exemplo, qualquer que seja o número de cisnes brancos observados, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos.
No fundo, o problema da indução corresponde ao problema de justificar a crença na uniformidade da natureza. Se a natureza é uniforme e regular no seu comportamento, então o que acontece no passado e presente que observámos é um bom guia para os acontecimentos não observados do passado, presente e futuro. No entanto, os únicos fundamentos para acreditar que a natureza é uniforme são os acontecimentos observados no passado e no presente.

Segundo o critério da verificabilidade, uma teoria pode ser considerada científica quando é constituída somente por afirmações empiricamente verificáveis, isto é, estabelecidas através da observação.
Dois exemplos:

• Certas algas são verdes.
• Júpiter tem satélites.

A primeira afirmação pode ser verificada através da observação quotidiana e a segunda foi pela primeira vez verificada por Galileu através das suas observações com o telescópio.

No entanto, este critério não é satisfatório, pois as teorias científicas incluem leis, isto é, proposições universais que visam captar regularidades naturais e que não podem ser observadas. Ou seja, o critério da verificabilidade implica que as teorias que incluem leis não são científicas o que é absurdo, já que um dos grandes objectivos da ciência é a descoberta das leis da Natureza.

Popper concorda com Hume a respeito da indução, e por isso defende que as leis cientificas não podem ser verificadas e nem sequer confirmadas.

Como nenhuma inferência indutiva é racionalmente aceitável ou justificável, a observação de casos particulares nunca nos permite apoiar ou confirmar minimamente uma lei científica. No entanto, e segundo Popper, isto não afecta o conhecimento científico, pois este na realidade utiliza o método hipotético-dedutivo e não o método indutivo.

Francisco M.
João C.
Tiago P.

A crítica ao Indutivismo-parte 2


Karl Popper arranjou maneira de dar resposta à questão do indutivismo como método científico.
O Indutivismo enquanto a concepção do método científico consiste, primeiramente, em considerar que é a partir de observações que são formuladas as hipóteses. Destas hipóteses retira-se uma conclusão generalizada e formula-se uma teoria. Esta, se for verdadeira para todos os casos, pode ser verificada, isto é, comprovada a partir da experiência e também a partir da experiência pode ser confirmada, ou seja, verificada parcialmente.
No entanto, o indutivismo sofre algumas críticas. Segundo esta perspectiva a investigação científica necessita que a observação seja pura e o cientista imparcial (não influenciável), mas não é o que ocorre na realidade, pois o cientista recorre ao auxilio de instrumentos para fazer as suas observações e acaba sempre por ser influenciado pelas teorias que já conhece.
Outra crítica é que existem teorias científicas que foram formuladas a partir de objectos não observáveis ou que, pelo menos, não eram observáveis na altura em que a teoria foi formulada.
Mais ainda, o método indutivo apresenta outro problema que já tinha sido discutido por David Hume que é o de justificar o princípio de indução. As inferências indutivas pressupõem o principio de indução, o qual requer que a Natureza seja uniforme. Esse principio não pode ser justificado a priori, pois não é uma verdade necessária. Também não pode ser justificado a posteriori, pois isto leva a formular outro argumento indutivo, o que leva a uma petição de princípio. Como principio de indução não pode ser justificado nem a priori nem a posteriori, então este principio é injustificável. Daí resulta o problema de mostrar que algumas das inferências que fazemos são justificadas.
Karl Popper que concorda com o argumento de Hume em relação ao método indutivo, constrói uma outra interpretação do método cientifico (hipotético-dedutivo) para justificar as teorias cientificas e dissolve o problema da indução, mostrando que os problemas da indução não invalidam a credibilidade e racionalidade da ciência. Pois, segundo o seu ponto de vista, as teorias cientificas não são descobertas a partir do método indutivo, mas sim utilizando apenas o raciocínio dedutivo, visto que é por dedução que se obtém as consequências predictivas das hipóteses que são experimentadas e que, se forem corroboradas, então se aceitam como teoria provisoriamente válida.
A ciência evolui por tentativa e erro, isto é, uma conjectura deve ser sempre posta a prova por meio da experiência tentando mostrar que é falsa e se ela for falsa elimina-se essa conjectura e parte-se para outra; se esta resistir então, inicialmente, é corroborada. Mesmo assim, esta teoria corroborada pode ser mais tarde refutada e substituída por outra.
Assim, nunca temos a certeza de termos encontrado uma teoria verdadeira, mas sim uma próxima da verdade que descobrimos por meio de eliminação das falsas.
O falsificacionismo como critério científico não era perfeito e foi alvo de duas críticas.
Em primeiro lugar o falsificacionismo distorce a natureza da actividade científica. Isto porque os cientistas não desenvolvem uma actividade com o intuito de a refutarem mas sim de a confirmarem e de consolidarem as suas teorias. E não é por não observarem aquilo que esperavam nas primeiras observações que a vão refutar.
A segunda crítica é a de que o falsificacionismo torna irracional a nossa confiança nas teorias científicas.
Se as teorias científicas não estiverem confirmadas pela observação não é racional confiar nelas. Por exemplo se eu não tiver razões muito fortes para acreditar nas leis físicas não vou arriscar atravessar uma ponte, pois ela pode não se comportar da maneira que eu estou à espera e cair.
Popper defendia que as teorias científicas mesmo quando inicialmente corroboradas iriam acabar por ser refutadas. Portanto, segundo Popper, eu não tenho motivos para acreditar que as leis cientificas são válidas e como tal não devo estar à espera que a ponte não caia. E sendo assim o melhor mesmo é não arriscar e não atravessar pontes.

Carla B.
Halyna K.

A crítica ao Indutivismo-parte 1


O que nos permite definir uma teoria científica?
Este era o problema da demarcação segundo Popper.
O problema da demarcação, como podemos observar acima, era o problema de não haver um critério que permitisse definir uma teoria científica de modo a distingui-la de outra não científica.
Popper, para dar uma resposta a este problema, definiu teoria científica como sendo toda a teoria que pudesse ser falsificável, isto é, que pudesse ser sujeita a experiências para testar se a teoria é verdadeira ou falsa.
Popper definiu graus de falsificabilidade. Uma teoria com um grande grau de falsificabilidade é uma teoria com um grande grau empírico. Por exemplo, se eu disser:
• O cobre derrete a altas temperaturas.
• Todos os metais derretem a altas temperaturas.
A segunda premissa tem maior conteúdo empírico que a primeira, logo tem um maior grau de falsificabilidade. Quanto maior for o grau de falsificabilidade de uma teoria melhor, pois significa que tem mais informação e que é mais rigorosa quanto ao mundo da experiência. As teorias que não são falsificáveis não são teorias científicas e nada nos dizem sobre o mundo que observamos.
Para Popper este critério é muito importante, pois ele diz que é mais importante saber os casos em que a teoria é falsificável do que aqueles onde ela é corroborada, ou seja, os casos em que ela pode ser observada.
O filósofo dizia que quanto mais depressa se encontrarem evidências que refutem a teoria mais depressa se pode arranjar uma nova teoria, que será melhor que a antiga.
Esta nova teoria deve ser sujeita ao mesmo tratamento que a antiga, isto é, também se deve procurar não os casos em que a teoria é corroborada, mas sim aqueles em que ela é refutada. Portanto as novas teorias devem ser sempre sujeitas ao principio da falsificabilidade para que possamos ir reformulando teorias e obtendo outras cada vez melhores a partir dos erros anteriores.
Este processo denomina-se Método das Conjecturas e Refutações e baseia-se no que foi anteriormente descrito: tenta-se encontrar casos em que a conjectura, isto é, a hipótese, não é observável, para a partir daí se formar uma hipótese melhor e mais completa que a anterior.
O critério de falsificabilidade visava substituir dois outros critérios de cientificidade que Popper excluiu. Esses critérios são o critério da confirmabilidade e da verificabilidade.
A verificabilidade diz que uma teoria, que foi comprovada através da experiência, é verificada em todos os casos. Popper rejeitou este critério pois dizia que não podemos ter a certeza de que a nossa teoria é confirmada em todos os casos apenas tendo por base a observação de alguns facto. Por exemplo eu tenho a teoria de que só existem cisnes brancos e vou à procura de factos que comprovem a minha teoria. Na minha cidade só existem cisnes brancos, logo a minha teoria é verdadeira; só existem cisnes brancos. Mas um belo dia resolvo ir passar férias à Austrália e encontro cisnes pretos e constato que a minha teoria estava errada.
A confirmabilidade, por outro lado diz que existem casos em que a minha teoria é confirmada, e corresponde a uma visão probabilística da verdade científica.
Mas para Popper uma teoria científica não devia ser confirmada, mas sim falsificada, porque é assim que segundo Popper a ciência avança: por tentativa e erro.

Deve-se saber onde a teoria falha para se poder arranjar uma teoria melhor.
Carla B.
Halyna K.

Corroboração e falsificabilidade


Karl Popper considera que o método científico é hipotético-dedutivo e não é indutivo, pois não é possível verificar ou confirmar hipóteses científicas. É por isso que o filósofo classifica uma teoria científica como conjectura, isto é, como explicação provável.

No entanto, para que haja conhecimento científico é preciso que as teorias sejam postas à prova. Para Popper uma teoria é científica se for falsificável, ou seja se for possível refutá-la pela experiência. No caso de resistir à falsificação, diz-se que aquela foi corroborada, ou seja: resistiu a experiências rigorosas e críticas severas. O facto das teorias serem corroboradas não nos permite concluir que são verdadeiras, mas apenas que poderá haver uma aproximação gradual da verdade.
Em suma, a falsificabilidade é uma forma de distinguir teorias que podem ser testadas pela experimentação. A ciência avança, levando à aproximação da verdade, tanto pelas teorias corroboradas, isto é, que resistiram à falsificação, como pelas teorias refutadas, graças às quais se avança mais depressa na descoberta dos erros escondidos nas teorias.

Marisa

A crítica ao indutivismo


Segundo o indutivismo, a elaboração de teorias científicas tem como ponto de partida a observação; depois, tentam-se encontrar novos casos que confirmem essas hipóteses. Isto é, a observação precede a teoria e a passagem de uma para a outra dá-se mediante inferências indutivas e, com isto, obtêm-se generalizações depois de observar o Mundo. Essas generalizações são ainda hipóteses e uma vez verificadas pela experimentação, tornam-se Leis Universais, válidas para todos os casos.
Contudo, existem fortes críticas à teoria indutivista, como por exemplo, o facto de não existirem observações puras, pois os investigadores são sempre influenciados de diversas formas pelos instrumentos usados na observação bem como pelas teorias já reconhecidas e o facto de muitas teorias se referirem a objectos não observáveis, como por exemplo, a teoria do Big Bang.
Karl Popper surge como um dos grandes opositores ao indutivismo, criticando a verificabilidade e a confirmabilidade como critérios de cientificidade. Propõe então o critério da falsificabilidade, que assenta na crença de que uma teoria é científica se for falsificável, isto é, se puder ser refutada pela experiencia. Na sua teoria, prevê diferentes graus de falsificabilidade, sendo tanto maior o grau de falsificabilidade de uma teoria quanto maior for o seu conteúdo empírico, ou seja, quanto maior for a informação que ela nos dá sobre o mundo que observamos.
Para Popper, as teorias são conjecturas sempre susceptíveis de serem falsificadas. É preciso deduzir previsões empíricas a partir da hipótese e confrontá-la com a observação, testando-a pela experimentação. Se as previsões se revelarem incorrectas, a teoria será refutada e será preciso procurar uma hipótese melhor para resolver o problema, mas, se uma teoria superar todas as tentativas de refutação está corroborada pela experiência. Daí que a ciência progrida por tentativa e erro, ou seja, ao rejeitar teorias falsas encontramo-nos mais próximos da verdade acerca do mundo, pois já nos libertámos de alguns erros.
Posto isto, concluímos que para Karl Popper a indução é injustificável, mas isso não põe em causa a credibilidade ou a racionalidade da ciência, pois o raciocínio indutivo não desempenha qualquer papel na investigação científica. O filósofo em questão ao refutar o indutivismo defende a concepção hipotético-dedutiva do método, ou seja, considera que não se parte da observação empírica mas de um facto-problema proveniente de uma dada teoria. Este método comporta as seguintes etapas: formulação de um problema, enunciação de uma hipótese, dedução de casos particulares a partir da hipótese, verificação da hipótese e refutação ou corroboração da hipótese. Como a avaliação de teorias científicas consiste essencialmente em tentativas de refutação, para tentar refutar uma teoria basta estabelecer casos concretos a serem submetidos aos testes experimentais, isto é, basta deduzir consequências empíricas da hipótese conjectural para a submeter aos testes experimentais.


Rita G.
Teresa B.

Indução e verificabilidade: um problema


O indutivismo é a interpretação do método científico segundo a qual as leis científicas são formadas a partir da observação. Segundo esta teoria, primeiro observa-se/experimenta-se, depois são formuladas teorias científicas através da generalização indutiva, e por fim tenta-se melhorar e generalizar ainda mais vastamente a teoria, sempre pela observação.
As teorias, depois de formuladas e comprovadas pela experimentação, consideram-se verificadas. A verificabilidade diz-nos que uma teoria comprovada é verdadeira em todos os casos, ou seja: a verificabilidade garante-nos que uma lei obtida por generalização constitui uma verdade universal.
Porém, são levantadas algumas objecções a esta teoria. Não existir observação pura é uma das objecções, pois não há observadores neutros: o cientista utiliza instrumentos, aceita teorias que já conhece e que orientam a sua investigação. Outra objecção é também o facto de as teorias se referirem a objectos que não são observáveis, por um lado, e por outro o facto de que não seriam aceitáveis as próprias teorias e leis gerais que fazem parte da ciência – o que não faz qualquer sentido, visto que a ciência procura precisamente estabelecer leis que expliquem o funcionamento da natureza.
Logo, existe um problema quando explicamos a formação de teorias científicas através da indução e da verificabilidade, porque através da indução é feita uma generalização que por vezes é errada, visto que ao se generalizar cai-se muitas vezes em erro, pois estamos a pressupor coisas que não constam nas proposições. E isto acontece porque a indução não apresenta a propriedade da necessidade lógica, pelo que é possível partir de premissas verdadeiras e mesmo assim obter conclusões falsas.
Vasco P.F.
João P.V.

A crítica ao indutivismo


Segundo a perspectiva indutivista, o método que nos conduz à descoberta das leis científicas da natureza é o indutivo. Para os indutivistas, a investigação científica parte da observação isenta do Mundo, isto é, livre de toda e qualquer crença que possa influenciá-la. De seguida, a partir dos factos observados (casos particulares), tira-se uma conclusão geral, obtendo-se, assim, uma teoria científica elaborada mediante um processo de generalização indutiva. Por fim, faz-se uso desta teoria ou para chegar a novas conclusões ainda mais vastas, ou para encontrar outros factos que possam apoiá-la. A experimentação visa verificar ou simplesmente confirmar as teorias assim obtidas: são científicas as teorias que satisfaçam os critérios da verificabilidade (quando se tem uma visão determinista da ciência) ou da confirmabilidade (quando se aceita uma visão probabilística da ciência).
Para Popper é necessário criar outro critério de cientificidade para resolver o problema da demarcação, ou seja, para separar as teses científicas das não científicas, pois os critérios do indutivismo não são justificáveis. O critério por ele proposto é o da falsificabilidade, segundo o qual uma teoria só é científica se for possível refutá-la através da experiência. E quanto mais informação acerca do Mundo por nós observado, isto é, conteúdo empírico, tem uma tese, maior é o risco de esta ser refutada pela experiência, logo maior é o seu grau de falsificabilidade.
Além disso, Popper defende que uma teoria científica é elaborada partindo de um problema que vai levar à criação de diversas conjecturas – hipóteses sugestivas. Depois de se chegar à teoria propriamente dita, tenta-se falsificá-la, isto é, testa-se pela experimentação. Caso uma teoria resista a todas as tentativas de refutação, passa a ser uma teoria corroborada.
Deste modo, pode-se chegar à conclusão que Popper tem uma perspectiva do método científico diferente da perspectiva indutivista, pois segundo ele a elaboração de uma teoria tem como ponto de partida um problema, enquanto que segundo os indutivista o ponto de partida é a observação. Por isso concorda com a crítica que Hume faz ao indutivismo: as teorias científicas não podem ser confirmadas pela observação, nem resultar de um processo de generalização indutiva, pois este assenta no princípio da indução, o qual não pode ser justificado, nem a priori, nem a posteriori.
Contudo, Popper não se preocupa em resolver este problema, pois, segundo ele, a indução não desempenha qualquer papel no que diz respeito à investigação científica, visto que o método científico é na realidade hipotético-dedutivo.
Ana V.B.

O problema da indução


O método científico pode ser encarado quer como um método indutivo, quer como método hipotético-dedutivo. Karl Popper é a favor de que se trata de um método hipotético-dedutivo e como tal apresenta inúmeras críticas ao método indutivo.
O indutivismo defende que existe, em primeiro lugar, uma observação pura e que as teorias científicas se obtêm mediante inferências indutivas: partindo-se do particular para o geral.
Por mais elevado que seja o número de afirmações particulares, não podemos garantir que as afirmações universais estarão correctas. Como exemplo, temos o caso dos cisnes que durante muito tempo foram considerados brancos até serem encontrados cisnes pretos.
Surge aqui o problema da indução: saber se as inferências indutivas estão ou não justificadas, e Popper apresenta algumas críticas a esta perspectiva do método.
Como primeira crítica, Popper defende que não existe observação pura. Os investigadores são sempre influenciados por outras teorias. Quanto mais a ciência avança, menos pura é a observação.
Em segundo lugar, afirma que os objectos da ciência, muitas vezes, não são observáveis, como foi durante muito tempo o caso dos átomos, electrões ou do ADN e, por isso, as teorias não podem ter sido desenvolvidas mediante generalizações indutivas baseadas na observação.
Como Popper não aceita o indutivismo, não se pode basear nos critérios indutivos que dão resposta ao problema da demarcação. Este problema consiste em definir a distinção entre teorias científicas e não científicas. Existem tradicionalmente dois critérios: a verificabilidade (verdadeiro se confirmado para todos os casos) e a confirmabilidade (verdadeiro apenas para alguns casos).
Em relação ao primeiro, Popper defende que este critério é inadequado para resolver o problema da demarcação, uma vez que não se podem observar todos os casos existentes e consequentemente não se pode formar uma lei absolutamente válida.
Como resposta a este problema, Popper afirma que as teorias científicas são meras conjecturas e que devem ser constantemente postas à prova, tendo em conta um critério de falsificabilidade. Uma teoria é científica, se e apenas se pode ser refutada pela experiência, logo não podemos dizer que a teoria científica é verdadeira mas apenas verosímil. Uma boa teoria científica é falsificável num grau elevado, ou seja, quanto mais informação ela tiver sobre o mundo maiores são as possibilidades de essa teoria ser refutada pela observação. A informação contida nas teorias tem de ser vasta e rigorosa para que esta possa ser refutada.
Karl Popper não se limita a encontrar solução para o problema da demarcação, como também apresenta três teses fundamentais da sua perspectiva que consiste no método das conjecturas e refutações.
Na primeira, considera que os problemas são o ponto de partida da investigação científica. Quando o investigador observa o mundo fá-lo de um modo selectivo, pois só lhe interessa observar aquilo que dá resposta ao seu problema.
Um cientista vai depois, numa segunda fase, criar conjecturas e hipóteses sugestivas decorrentes do problema. Quanto mais ousada a teoria melhor, pois a sua probabilidade de ser falsificada é maior.
Uma vez apresentada a ideia, extraem-se dela conclusões particulares através da dedução lógica. De seguida, estas conclusões são comparadas para se descobrir a relação entre elas (tais como equivalência, derivabilidade, compatibilidade ou incompatibilidade).
Numa terceira fase, um cientista procura refutar ou falsificar a teoria. Para a testar é preciso deduzir previsões empíricas e pô-las à prova através da observação. Se as previsões se revelarem incorrectas a teoria é refutada e o investigador procura uma hipótese melhor para resolver o problema. Se a previsão for correcta podemos dizer que até ao momento a teoria talvez seja verdadeira. Uma teoria que supera todas as tentativas de refutação diz-se corroborada pela experiência.
Concluindo, para Popper a indução não desempenha qualquer papel na investigação científica. A avaliação de teorias científicas consiste em tentativas de refutação e para isso basta submetê-las à experimentação. Parte-se de uma hipótese geral e submetemos à experimentação casos particulares deduzidos dessa mesma hipótese.
As leis científicas são conjecturas e podem ser refutadas a qualquer momento. Popper substitui a ideia de verificação ou confirmação pela de falsificação. As teorias científicas devem ser expostas à falsificação e o seu carácter de verdade está na capacidade de resistência à falsificação.
“Admitimos que a racionalidade consiste na atitude crítica e buscamos teorias que, embora falíveis, nos permitam progredir, ultrapassando as teorias precedentes: o que significa que são testadas com maior rigor, conseguindo resistir a alguns desses testes.” - Karl Popper
João S.
Marta P.

Corroboração e falsificabilidade



Segundo Popper, as teorias científicas não podem ser confirmadas nem verificadas. Assim, o critério para uma teoria ser científica é o facto de ser falsificável, ou seja o facto de poder ser refutada pela experiência. Quanto maior o grau de falsificabilidade (significa isto que a teoria corre grandes riscos de ser refutada) maior é o seu conteúdo empírico, ou seja quando uma teoria científica tem grandes probabilidades de ser refutada, é porque essa teoria nos dá muitas informações acerca do Mundo à nossa volta e é mais provável que alguma dessas informações venha a ser desmentida por serem muitas.
Também segundo Popper quando uma teoria foi posta à prova e superou todas as tentativas de refutação, está corroborada pela experiência. Isto é, até agora nada indica que a teoria seja falsa, mas apesar disso, também não temos a certeza de ser verdadeira.
Assim, se uma teoria com um elevado grau de falsificabilidade está corroborada, significa que há grandes hipóteses de esta teoria ser verdadeira, e dela nos dar muita informação sobre o Mundo à nossa volta.
A falsificabilidade é uma qualidade que indica a capacidade de uma teoria ser submetida a testes experimentais.Pode-se assim concluir que a falsificabilidade permite seleccionar as teorias científicas, e é estas, ao terem sucesso, passam a ser teoria corroboradas, pelo facto de não serem refutadas. Só se considera corroborada uma teoria se ela resistiu às tentativas de falsificação.

Trabalho realizado por:
Sara C.

5.29.2008

As Revoluções Científicas


Os paradigmas são a fonte dos métodos, do campo de problemas e dos padrões de solução aceites por uma dada comunidade científica madura.
Consequentemente, a aceitação do novo paradigma muitas vezes obriga à redefinição da ciência correspondente. Alguns problemas antigos podem ser relegados para outra ciência, ou podem ser declarados completamente "não científicos". Outros, previamente não existentes ou triviais podem, no interior do novo paradigma, tornar-se o arquétipo do resultado científico importante.
E à medida que os problemas mudam, também frequentemente muda o padrão que distingue uma solução científica real de uma mera especulação científica, de um jogo de palavras ou de uma questão matemática. A tradição científica normal que emerge de uma revolução científica é não só incompatível mas também frequentemente incomensurável com a tradição científica anterior.
Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas

INCOMENSURABILIDADE DAS TEORIAS


CRITÉRIOS OBJECTIVOS NA ESCOLHA DE TEORIAS:
• Exactidão empírica
• Consistência
• Alcance
• Simplicidade
• Fecundidade

Estes são os critérios que Kuhn reconhece como objectivos; no entanto, não garantem objectividade na escolha: apenas correspondem a uma base partilhada que orienta a escolha dos cientistas.
Existem ainda critérios subjectivos, e são estes que acabam por determinar a resolução do conflito entre paradigmas.

Assim, Thomas Kuhn considera que a ciência não tem carácter objectivo, pois o seu valor resulta do consenso entre os membros da comunidade científica – que podem repetir as experiências dos outros cientistas e assim obter as mesmas conclusões - e não de uma verdade objectivamente captada.

CRÍTICAS À TEORIA DE KUHN:

• Se um novo paradigma permite eliminar as anomalias do anterior, os paradigmas não são completamente incomensuráveis.
• O crescente sucesso prático da ciência mostra que as teorias hoje aceites explicam melhor a realidade do que aquelas que já foram abandonadas.

DUAS OBRAS DO AUTOR:
A Tensão Essencial, trad. Port. Edições 70
A Estrutura das Revoluções Científicas (não conheço tradução portuguesa)

A HISTÓRIA DA CIÊNCIA É UMA SUCESSÃO DE PARADIGMAS


PARADIGMA:
É um conjunto de REGRAS que define um modelo de aplicação do método científico à investigação. Centra-se numa TEORIA.

O PARADIGMA DEFINE REGRAS PARA:
• aplicar teorias à realidade
• usar instrumentos científicos
• avaliar explicações científicas

Exemplos: paradigma newtoniano; paradigma geocêntrico; paradigma heliocêntrico.

A MUDANÇA DE PARADIGMA:
CIÊNCIA NORMAL: a investigação científica dedica-se a resolver enigmas dentro do paradigma aceite no momento pela comunidade científica.
Quando surgem factos que põem em causa a teoria em vigor, temos uma ANOMALIA. Uma acumulação de anomalias leva a uma CRISE do paradigma.
A perda de confiança no paradigma provoca um período de CIÊNCIA EXTRAORDINÁRIA, que conduzirá a uma REVOLUÇÃO CIENTÍFICA = aceitação de um novo paradigma para definir a investigação científica.

Os paradigmas não podem ser escolhidos por comparação entre eles, de modo a determinar qual é o melhor, pois torna-se impossível analisá-los objectivamente através de conceitos neutros → INCOMENSURABILIDADE DOS PARADIGMAS.

Assim, as mudanças de paradigma não envolvem a certeza de uma aproximação à verdade: a ciência evolui, mas isso não garante que progrida.

5.18.2008

Como se obtém uma lei física? 4


Estou convencido de que a história não se repete, em Física, como se pode ver a partir dos exemplo que dei. A razão é a seguinte: quaisquer esquemas, tais como “pensem em leis de simetria”, ou “adivinhem as equações”, são hoje conhecidos de toda a gente e estão constantemente a ser ensaiados.
Quando nos encontramos confusos, a resposta não pode ser uma destas, porque já as experimentámos todas Temos de recorrer a um método diferente, quando nos encontramos imobilizados, com demasiadas preocupações e problemas, é porque estamos a utilizar os mesmos métodos que já usámos antes.
Por isso, o próximo esquema, a nova descoberta, será obtido de maneira completamente diferente.
O QUE É UMA LEI FÍSICA?, Richard P. Feynman

Como se obtém uma lei física? 3


Temos de começar por Newton. Apesar do seu conhecimento ser incompleto, Newton conseguiu adivinhar certas leis, resumindo algumas ideias relativamente próximas da experiência; não havia então um grande fosso entre observação e verificações.

O físico seguinte que fez algo notável foi Maxwell, que descobriu as leis da electricidade e do magnetismo. Fez o seguinte: reuniu todas as leis da electricidade , devidas a Faraday e a outros, e, estudando-as, apercebeu-se de que eram matematicamente inconsistentes. Para pôr tudo em ordem teve de adicionar um termo a uma determinada equação. Fez isso inventando para si mesmo um modelo especial de engrenagem, rodas dentadas, etc. Descobriu uma nova lei, mas ninguém lhe prestou muita atenção, já que ninguém acreditava nas suas engrenagens.
Não acreditamos hoje nessas engrenagens, mas as equações que Maxwell obteve estão correctas.

No caso da relatividade, a descoberta foi totalmente diferente. Havia uma acumulação de paradoxos; as leis conhecidas conduziam a resultados contraditórios. Tratou-se de um novo tipo de raciocínio , um raciocínio que considerava as possíveis simetrias das leis.
Foi particularmente difícil, porque pela primeira vez o homem se apercebeu de que as leis de Newton podiam parecer certas e estar, afinal, erradas. Também foi difícil aceitar que as ideias correspondentes de tempo e espaço, que pareciam tão intuitivas, podiam estar erradas.

A mecânica quântica foi descoberta de duas maneiras diferentes – facto que constituiu uma lição.
Uma vez mais, descobriu-se experimentalmente um grande número de paradoxos: tratava-se de factos que não podiam de modo nenhum ser explicados com a ajuda da ciência conhecida. Dois caminhos diferentes foram o de Schrodinger, que adivinhou a equação da mecânica quântica, e o de Heisenberg, que argumentou que se devia analisar o que era mensurável. Estes dois métodos, filosoficamente diferentes, acabaram por conduzir à mesma descoberta.
O QUE É UMA LEI FÍSICA?, Richard P. Feynman

Como se obtém uma lei física? 2


Uma vez que sou físico teórico, vou concentrar-me agora no modo como se formulam hipóteses.
A origem das hipóteses não tem grande importância; importa apenas que as hipóteses estejam de acordo com a experiência e que sejam tão bem definidas quanto possível.
“Então”, dizem, “isso é muito simples. Monta-se uma máquina de calcular, uma grande máquina de calcular, com uma roleta que permita uma série de previsões e que, sempre que saia uma hipótese sobre o funcionamento da Natureza, calcule imediatamente as respectivas consequências e efectue uma comparação com uma lista de resultados experimentais fornecidos noutro lado da máquina.”
Por outras palavras: adivinhar é um trabalho de tolos. Na realidade, é precisamente ao contrário, e vou tentar explicar porquê.

O problema inicial consiste em saber por onde começar. Dizem-me: “Eu começaria por todos os princípios conhecidos.” Todavia, esses princípios conhecidos são incompatíveis uns com os outros, de modo que alguma coisa tem que ser retirada.
A segunda dificuldade é que há um número infinito de possibilidades simples. Normalmente, a imaginação da Natureza ultrapassa em muito a nossa. Encontrar uma teoria subtil e profunda não é muito fácil.

É necessária realmente muita inteligência para formular hipóteses e é impossível que uma máquina realize essa tarefa às cegas.
O QUE É UMA LEI FÍSICA?, Richard P. Feynman

Como se obtém uma lei física? 1


No decurso deste processo de previsão, cálculo de consequências e comparação com a experiência, podemos ficar perplexos em várias fases. Podemos ficar parados na fase de previsão ou na fase de cálculo. Por exemplo, Yukawa, físico japonês prémio Nobel em 1949, propôs em 1934 uma teoria para as forças nucleares, mas ninguém conseguiu calcular as respectivas consequências, uma vez que a matemática envolvida era demasiado difícil. Assim, não foi possível comparar a teoria com a experiência. Esta teoria persistiu durante bastante tempo, até se descobrirem partículas adicionais que não tinham sido consideradas por Yukawa. As coisas não eram, pois, tão simples como Yukawa supusera.
Uma outra fase onde podemos ficar parados é a da experimentação. Por exemplo, a teoria quântica da gravitação está a avançar muito lentamente, se é que avança mesmo, porque todas as experiências possíveis nunca envolvem a mecânica quântica e a gravitação ao mesmo tempo. A força da gravidade é demasiado fraca em comparação com a força eléctrica.
O QUE É UMA LEI FÍSICA?, Richard P. Feynman

5.11.2008

Outra vez a Sombrero



Estas são duas magníficas observações da Sombrero. Reparem como obtemos realidade variáveis, conforme os meios tecnológicos utilizados.
Um belo exemplo da multiplicidade de recolhas possíveis sobre a mesma realidade. Observação pura? Não me parece!

Galáxia do Sombrero


A propósito da observação pura que certos autores defendem ser característica da observação científica, esta imagem mostra como os instrumentos de observação condicionam os resultados obtidos.

Uma Crítica a Popper


Nos seus termo mais simples, a explicação de Popper para o conhecimento científico envolve generalizações e os seus testes observacionais. Se encontrarmos um contra-exemplo genuíno a uma generalização, podemos dizer que foi dedutivamente refutada. Segundo Popper, os casos negativos fornecem bases racionais para rejeitar generalizações. Se, contudo, fizermos observações e executarmos testes mas não encontrarmos instâncias negativas, tudo o que podemos dizer dedutivamente é que a generalização em questão não foi refutada.

O conceito de corroboração de Popper foi concebido para medir o modo com conjecturas têm resistido a críticas severas, incluindo testes severos. Penso que esta é a tese crucial: que há uma base racional para preferir usar num argumento previsivo uma generalização não refutada em detrimento de outra refutada. Se isso for verdade, então Popper pode legitimamente afirmar que resolveu o problema da previsão racional. É que as teorias científicas são usadas tanto para fins teóricos como práticos - fins esses que incluem a previsão.
Ora esta perspectiva da corroboração contém dificuldades sérias.

Watkins e Popper concordam, penso, que as afirmações corroboradas relatam observações do passado e do presente, e que afirmações deste tipo não têm em si conteúdo previsivo. As conjecturas, hipóteses, teorias é que têm conteúdo previsivo. Para fazer uma previsão, é necessário escolher uma conjectura que tenha conteúdo previsivo para ser usada como premissa num argumento previsivo. Para fazer uma previsão racional, parece-me ser necessário fazer uma escolha racional de uma premissa para tal argumento.
Porém, com base nas nossas provas observacionais e nas afirmações sobre a corroboração de uma dada conjectura não se garante qualquer avaliação previsiva. Assim, parece-me que a corroboração não fornece qualquer base racional para preferir uma conjectura a outra para fins de previsão prática.

Não estou a reclamar por não termos a certeza de que uma delas irá permitir uma previsão correcta e outra não. Estou a reclamar porque não se forneceu qualquer base racional para uma preferência deste tipo.

Wesley C. Salmon, Previsão Racional
(Adaptado)

Testar Teorias


Uma vez apresentada uma nova ideia, a título provisório, e ainda antes de ser justificada – quer seja uma antecipação, uma hipótese, um sistema teórico, ou que quer que seja – extraem-se dela conclusões através da dedução lógica. Estas conclusões são então comparadas entre si e com outras afirmações relevantes, de modo a descobrir que relações lógicas (tais como equivalência, derivabilidade, compatibilidade ou incompatibilidade) existem entre elas.

Podemos distinguir quatro procedimentos diferentes para testar teorias.
Em primeiro lugar, há a comparação lógica das conclusões umas com as outras, testando-se assim a consistência interna do sistema. Em segundo lugar, há o estudo da forma lógica da teoria, com o objectivo de determinar se tem o carácter de uma teoria empírica ou científica, ou se é, por exemplo, tautológica. Em terceiro lugar, há a comparação com outras teorias, principalmente com o objectivo de determinar se a teoria se a teoria constitui um avanço científico no caso de sobreviver aos testes. Por fim, há o teste da teoria através das aplicações empíricas das conclusões que dela se podem derivar.

O propósito deste último tipo de teste é descobrir até que ponto as novas consequências da teoria satisfazem os requisitos da prática. Também aqui o procedimento de teste acaba por ser dedutivo. Com a ajuda de outras afirmações anteriormente aceites, certas afirmações singulares – a que podemos chamar previsões – são deduzidas da teoria, especialmente previsões que são facilmente testáveis ou aplicáveis.

Seguidamente, tratamos de tomar uma decisão acerca destas afirmações deduzidas, comparando-as com os resultados das aplicações práticas e das experiências.
Se esta decisão for positiva, isto é, se as conclusões singulares se tornaram aceitáveis - ou verificadas – então a teoria passou temporariamente o teste.
Mas se a decisão for negativa, ou seja, se as conclusões tiverem sido falsificadas, então a sua falsificação falsifica também a teoria da qual foram logicamente deduzidas.

Deve dizer-se que uma decisão positiva apenas temporariamente pode apoiar a teoria, pois decisões negativas posteriores podem sempre fazê-la cair.

Enquanto um teoria resiste a testes minuciosos e exigentes e não é substituída por outra teoria, podemos dizer que é corroborada.
Karl Popper, A Lógica da Investigação científica

O Problema da Indução



É habitual chamar "indutiva" a uma inferência quando passa de afirmações singulares (por vezes chamadas particulares) tais como descrições dos resultados de observações ou de experiências, para afirmações universais, tais como hipóteses e teorias.

Ora, de um ponto de vista lógico, está longe de ser óbvio que a inferência de afirmações universais a partir de afirmações particulares - por mais elevado que seja o seu número - esteja justificada. É que a conclusão a que cheguemos por esta via corre sempre o risco de um dia se tornar falsa: qualquer que seja o número de exemplares de cisnes brancos que tenhamos observado, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes sejam brancos.

A questão de saber se as inferências indutivas estão justificadas ou em que condições o estão, é conhecida como o problema da indução.

Que facilmente podem surgir inconsistências em conexão com o princípio da indução, é algo que deveria ser claro a partir de Hume.
Karl Popper, A Lógica da Investigação científica

4.21.2008

O cepticismo mitigado


O cepticismo de David Hume é mitigado, isto é, moderado.

E porquê?
Em primeiro lugar, Hume rejeita todo o cepticismo radical, seja o cartesiano – porque desconfiar totalmente das nossas faculdades inviabiliza o recurso a qualquer forma de evidência como a do cogito para ultrapassar essa desconfiança – seja o pirrónico – porque duvidar de tudo o que não podemos justificar torna impossível qualquer forma de acção.

Hume, no entanto, embora não considere necessário rejeitar tudo aquilo que não conseguimos justificar, considera haver razões para avançar com cautela na investigação.

E isto porque estabeleceu as seguintes conclusões:
• somos incapazes de justificar a crença de que a Natureza é uniforme – inerente a todas as nossas inferências causais (princípio da causalidade);
• somos incapazes de justificar a crença de que o mundo exterior é real, pois não conseguimos demonstrar que as nossas percepções são causadas por objectos reais – e sem isto não podemos ter a certeza da verdade das nossas ideias.

Em consequência disto, devemos ter consciência dos limites do nosso entendimento e evitar não só o dogmatismo (a confiança cega na possibilidade de obtermos conhecimento), mas também todas as questões cujo carácter excessivamente especulativo torna impossível a certeza de existir correspondência entre uma ideia e uma impressão que estaria na sua origem.
A importância desta posição de Hume pode ser sublinhada pelo facto de Kant (séc. XVIII), um dos maiores filósofos europeus de todos os tempos, ter afirmado que David Hume o despertou do seu sono dogmático: tal despertar esteve na origem de toda a sua investigação filosófica dos limites do conhecimento humano.

Impressões e Ideias


Para David Hume, as ideias são cópias das impressões internas ou externas. Isto significa que as nossas ideias correspondem às nossas percepções dos objectos – princípio da cópia.
Um objecto provoca em nós uma impressão; essa impressão é guardada pela memória e essa recordação da impressão é a ideia que usamos para pensar, imaginar, formular ideias complexas.

Só podemos aceitar como verdadeiras as ideias em relação às quais é possível fazer corresponder a impressão de um objecto. A ideia de esfinge, por exemplo, que resulta do trabalho combinatório da nossa mente, não tem uma correspondência sensorial visto que não é possível ter qualquer percepção de tal animal enquanto ser vivo concreto. O mesmo acontece com a ideia de Deus: não corresponde a nenhuma impressão nascida da experiência sensorial, visto que Deus não é observável, e portanto não constitui um conhecimento verdadeiro.

Quando investigamos relações de ideias, obtemos a priori verdades necessárias mas que nada nos dizem sobre a realidade factual. Neste campo, trabalhamos com a demonstração e portanto com argumentos dedutivos.

Quando investigamos questões de facto, obtemos a posteriori verdades contingentes, mas que nos informam sobre a realidade factual. Aqui, fazemos inferências causais utilizando argumentos indutivos.

É fácil concluirmos que as relações de ideias apresentam a propriedade da necessidade lógica enquanto que as questões de facto não a apresentam. O princípio da causalidade é estabelecido devido ao hábito de observar essa conjunção constante entre certos factos. Logo, temos aqui um problema de limites do conhecimento.

4.13.2008

O conhecimento da Causalidade



Quando David Hume analisa o problema da causalidade, está a sublinhar a diferença lógica que existe entre considerar o princípio de causalidade como descrevendo uma CONJUNÇÃO CONSTANTE ou uma CONEXÃO NECESSÁRIA.

Isto remete para a diferença que para ele existe entre as proposições que exprimem relações de ideias e aquelas que exprimem questões de facto.
As relações entre ideias implicam a necessidade lógica, ou seja: uma vez aceites como verdadeiras, a sua negação implica a contradição.
Exemplo: 12+3=20-5. Não podemos negar esta proposição sem nos contradizermos, se a referência for sempre o sistema decimal.

As questões de facto, por sua vez, exprimem verdades contingentes. Isto quer dizer que exprimem factos que podem acontecer ou não. Exemplo: Quando forem 15 horas estará a chover. Isto é contingente, pode acontecer ou não. Quer não aconteça, quer aconteça, não há contradição, porque no domínio dos factos não existe necessidade lógica. Eu consigo pensar sem problemas tanto o facto de chover como o de não chover. Mas não consigo pensar que 15 seja diferente de 15 (ver o exemplo acima) sem criar um grave problema lógico.

Ora, enquanto empirista, ele considera que todo o conhecimento factual é obtido através do raciocínio indutivo: a partir das impressões simples recebidas pelos sentidos a partir dos objectos observados, obtenho impressões complexas que servem de base ao meu pensamento. Com elas posso construir um conhecimento fiável dos acontecimentos, dos factos que realmente ocorrem. Assim sendo, o princípio da causalidade limita-se a registar conjunções constantes entre factos, isto é: verdades contingentes. Não poderá exprimir relações logicamente necessárias entre fenómenos, porque tal qualidade só pertence ao argumento dedutivo, e o conhecimento factual tem origem indutiva, como já foi referido.

Para que a causalidade pudesse ter o estatuto de princípio dotado de necessidade lógica, teria de ter origem no entendimento e não na observação empírica. Hume, sendo empirista, não aceita que o conhecimento factual possa ser obtido a partir da Razão, e portanto não pode aceitar esse carácter constringente da causalidade como princípio logicamente necessário. Para ele, a conexão causal resulta do hábito: habituados a observar conjunções constantes entre fenómenos, passamos a considerar que essa conjunção existe na realidade, em vez de ser produto de um hábito do nosso espírito, quando na realidade não é possível observar a causalidade em si, mas apenas uma sucessão de factos que acontecem uns a seguir aos outros.

Ora o princípio da causalidade é um dos fundamentos do método científico. Se lhe retiramos o carácter de necessidade lógica, ficamos com a ciência fragilizada. Por isso dizemos que Hume apresenta um CEPTICISMO MITIGADO, isto é, moderado.

4.08.2008

A dedução das verdades


Sou obrigado a pedir aos leitores que não tomem nenhuma opinião minha por verdadeira se não a virem muito claramente deduzida dos verdadeiros princípios.
Também sei que poderão passar-se vários séculos antes que se tenham deduzido desses Princípios todas as verdades.
A maioria dos melhores espíritos têm uma muito má opinião da Filosofia, devido aos defeitos que verificaram na que esteve em uso até ao momento, e não desejarão dedicar-se à investigação de uma filosofia melhor. Mas se por fim virem a diferença entre estes princípios e todos os outros, e a grande quantidade de verdades que deles se podem deduzir, ouso crer que nenhum deles deixará de empregar todos os esforços num estudo tão proveitoso.
Princípios da Filosofia, Carta do Autor ao Tradutor e Que Poderá Servir de Prefácio (adaptado)

3.11.2008

GERIR AS EMOÇÕES



INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

A capacidade da pessoa se motivar a si mesma a despeito das frustrações; de controlar os impulsos e diferir a colheita da recompensa; de regular o seu próprio estado de espírito e impedir que o desânimo anule a sua capacidade de pensar; de sentir empatia e de manter a esperança viva.
Goleman

Na prática:

• Não ficar preso ao aspecto imediato;
• Esperar o momento adequado para colher os frutos do nosso esforço;
• Fasear a execução dos nossos planos de acção tendo sempre presente a finalidade em vista;
• Identificar as nossas emoções e sentimentos;
• Reconhecer o papel das nossas emoções e sentimentos;
• Desarmar as emoções negativas sofridas e provocadas: ultrapassar a agressividade;
• Cultivar emoções positivas;
• Articular dados emocionais e raciocínio formal na tomada de decisões.

3.10.2008

GERIR AS EMOÇÕES


Gerir as emoções é algo que tem preocupado a humanidade desde há séculos, e por isso existem inúmeras perspectivas sobre o assunto.
Abordaremos algumas delas, não para tirar conclusões definitivas, mas com a esperança de contribuir com pistas que possam tornar-se úteis, numa perspectiva mais filosófica do que estritamente científica.

GERIR AS EMOÇÕES


PARA LER E PENSAR:

1 - Damásio, António:
* O Erro de Descartes – Emoção, Razão e Cérebro Humano;
* O Sentimento de Si – O Corpo, a Emoção e a Neurobiologia da Consciência;
* Ao Encontro de Espinosa – As Emoções Sociais e a Neurobiologia do Sentir
Publicações Europa-América

2 - Botton, Alain de: O Consolo da Filosofia
Dom Quixote

3 - Savater, Fernando :
* Ética para Um Jovem
* A Coragem de Escolher

Dom Quixote

4 - Servan-Schreiber, David: curar o stress, a ansiedade e a depressão sem medicamentos nem psicanálise
Dom Quixote

5 - Eça de Queirós, José Maria de: A Ilustre Casa de Ramires

6 - Castelo Branco, Camilo: A Queda de Um Anjo

7 - Sepúlveda, Luís: O Velho que Lia Romances de Amor
Edições ASA

8 - Fisher, Robert: O Cavaleiro da Armadura Enferrujada
Editorial Presença

9 - Ursula K. Le Guin: Ciclo de TerramarO Feiticeiro e a Sombra
Editorial Presença

PARA VER E PENSAR:

BABEL; CRASH; BELEZA AMERICANA; UMA CANÇÃO DE AMOR PARA BOBBY LONG; O PECADO MORA AO LADO; CASABLANCA; NO VALE DE ELLAH; ROAD TO PERDITION; AMÉRICA PROIBIDA; PLATOON; APOCALYPSE NOW.

GERIR AS EMOÇÕES


III

. DOR: emoção negativa (angústia, medo, tristeza, ciúme) → percepção da representação sensorial resultante da disfunção dos tecidos vivos; está associado com o castigo e comportamentos de recuo e imobilização;

. PRAZER: emoção positiva (orgulho, felicidade, esperança) → resposta a uma situação de desequilíbrio cuja resolução leva ao bem-estar; está associado com a recompensa e comportamentos de curiosidade, aproximação e procura; o prazer pode surgir logo no início do processo pela antecipação do resultado da procura; É UMA ANTECIPAÇÃO INTELIGENTE DO QUE SE PODE FAZER PARA QUE NÃO VENHA A SURGIR NENHUM PROBLEMA;


É possível dissociar a emoção e o sentimento, quer através de fármacos quer através da hipnose. É possível reduzir quer a dor quer as emoções a ela associadas: a percepção da lesão permanece, mas a redução da emoção evita o sofrimento a ela associado.


Isto mostra que emoção e consciência da emoção são coisas diferentes.

GERIR AS EMOÇÕES


II

. a emoção manifesta-se no corpo através de um conjunto de respostas químicas e neurais que formam um padrão; prepara uma resposta imediata a uma dada situação, regulando o estado interno do organismo de modo a que a pessoa possa estar preparada para essa reacção específica, e moldar comportamentos futuros;

. visa a criação de condições vantajosas para o organismo envolvido: a finalidade das emoções é ajudar o organismo a manter a vida;

. a aprendizagem e a cultura alteram a expressão das emoções, mas estas são processos biologicamente determinados, dependentes de dispositivos cerebrais que resultam de uma longa história evolucionária;

. os dispositivos que produzem emoções ocupam um conjunto restrito de regiões cerebrais e podem ser activados automaticamente sem deliberação consciente;

. todas as emoções afectam o modo de operação dos circuitos cerebrais, criando o substrato para a criação dos sentimentos de emoção;

. as emoções exprimem-se de modo VERBAL e NÃO-VERBAL, como: CORAR; EMPALIDECER; ACELERAÇÃO DO RITMO CARDÍACO; SORRIR; ARQUEAR SOBRANCELHAS; SECREÇÃO DE HORMONAS; LIBERTAÇÃO DE NEUROTRANSMISSORES OU NEUROMODELADORES (serotonina, norepinefrina, dopamina); GRITAR; INSULTAR; USAR EXPRESSÕES DE CARINHO.

GERIR AS EMOÇÕES


I

“ As emoções fazem parte da regulação homeostática e estão sempre prontas, pelas suas acções, a evitar a perda da integridade que prenuncia a morte ou produz a própria morte, e estão sempre prontas a proporcionar fontes de energia, abrigo ou sexo.”

“ As emoções são inseparáveis da ideia de recompensa ou de castigo, de prazer ou de dor, de aproximação ou afastamento, de vantagem ou desvantagem pessoal. Inevitavelmente, as emoções são inseparáveis da ideia do bem e do mal.”
António Damásio, in: O Sentimento de Si

GERIR AS EMOÇÕES


1 – Indique pelo menos três conceitos que adquiriu/aprofundou nesta palestra

2 – Considera que esta palestra foi útil para compreender que as emoções desempenham um papel importante na vida das pessoas?

MUITO/EM PARTE/NADA

3 – Considera que foi útil para aperfeiçoar a sua capacidade de gerir construtivamente as emoções?

MUITO/EM PARTE/NADA

4 – Considera que esta palestra lhe deu pistas para melhorar a sua capacidade de estabelecer empatia com outras pessoas?

SIM/TALVEZ/NÃO

*************************************************************************************

Este é o documento distribuído a algumas das pessoas presentes na palestra sobre as emoções. Dado que foi considerada apenas uma amostra do auditório, pretende-se dar a possibilidade de manifestarem a sua opinião a todos aqueles que desejarem fazê-lo.
Os comentários permitem não só responder a estes itens mas ainda deixar outras propostas e colocar outras questões - que serão sempre bem vindas.

2.28.2008

Contra o Método 1


Capítulo II
... O único princípio que não inibe a ideia de progresso é: qualquer coisa serve.

A ideia de um método que inclua princípios firmes, imutáveis e absolutamente vinculativos de condução dos assuntos da ciência depara com dificuldades consideráveis quando a confrontamos com os resultados da investigação histórica. Descobrimos, com efeito, que não há uma única regra, ainda que plausível e ainda que firmemente alicerçada em termos epistemológicos, que não tenha sido uma ou outra vez violada. Torna-se evidente que tais violações não acontecem por acaso, não são o resultado de uma qualquer insuficiência do conhecimento ou de desatenção susceptíveis de serem evitadas. Pelo contrário, vemos que foram elementos necessários ao progresso.
Na realidade, um dos aspectos mais notáveis dos debates recentes em história e filosofia da ciência é a compreensão de que factos e evoluções, como a invenção do atomismo na Antiguidade, a Revolução Coperniciana, a emergência do atomismo contemporâneo (teoria cinética; teoria da dispersão; estereoquímica; teoria quântica) a afirmação gradual da teoria ondulatória da luz, só ocorreram porque certos pensadores ou decidiram não se deixar limitar por certas regras de método "óbvias" ou romperam inconscientemente com elas.
Esta prática liberal, repito, não é só um facto
da história da ciência. É algo que é ao mesmo tempo racional e absolutamente necessário no progresso do conhecimento.

Mais especificamente, é possível demonstrar o seguinte: há sempre circunstâncias em que é aconselhável não só ignorar como contrariar uma dada regra, ainda que seja "fundamental" ou "racional".
Por exemplo, há circunstâncias em que é aconselhável introduzir hipóteses ad hoc, ou hipóteses que contrariem resultados experimentais bem estabelecidos e geralmente aceites.
(adaptado)

2.19.2008

As Regras do Método


Em vez do grande número de preceitos que compõem a lógica, cuidei bastarem-me os quatro seguintes, desde que eu tomasse a firme e constante resolução de nem uma só vez deixar de os observar.
O primeiro era o de jamais receber por verdadeira coisa alguma que eu não conhecesse evidentemente como tal: isto é, o de evitar cuidadosamente a precipitação e o preconceito, aceitando nos meus juízos apenas o que se apresentasse tão claramente e tão distintamente ao meu espírito que não teria qualquer ocasião de o pôr em dúvida.
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quanto fosse possível e requerido para melhor as resolver.
O terceiro, o de conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco até ao conhecimento dos mais complexos.
E o último, o de fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais que fique seguro de nada omitir.
Discurso do Método (adaptado)

2.18.2008

Telescópio Binocular



Situado no Mount Graham, Arizona, é conhecido como LBT (Large Binocular Telescope).
A investigação é assegurada por uma equipa internacional de cientistas.
Os dois espelhos de 8.4 metros de diâmetro estão colocados lado-a-lado, reproduzindo o desenho dos vulgares óculos. Esta configuração binocular apresenta largos benefícios
se comparada com a dos vulgares telescópios com um só espelho, no que se refere tanto à sensibilidade como à alta resolução das imagens num campo de observação relativamente alargado.

Aqui está um exemplo do modo como os instrumentos de observação interferem na recolha de dados, e de como tecnologia e ciência se articulam estreitamente.
O que nos leva à questão dos fundamentos da investigação científica: serão indutivos ou hipotético-dedutivos? Este é um tema a explorar mais à frente.

Ah, e no céu vemos a parte norte da Via Láctea, a Galáxia a que pertence o Sistema Solar.

LÁGRIMA DE PRETA



Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão é o pseudónimo do cientista e professor de Química Rómulo de Carvalho, que marcou várias gerações de alunos no Liceu Camões em Lisboa.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 — Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997) foi professor, pedagogo, investigador de História da Ciência e poeta.

Este bonito poema, ao unir a poesia e a química para tratar uma questão social, revela não só o talento mas também a sensibilidade do autor.

É também da sua autoria a PEDRA FILOSOFAL, donde foi extraído o lema deste blog.

2.14.2008

Centauro A


A Centauro A é uma galáxia elíptica gigante, e a galáxia activa mais próxima da Terra, pois encontra-se apenas a 11 milhões de anos-luz. Nesta imagem vemos imagens obtidas através de sistemas de raio-X (Chandra), ópticos (ESO) e rádio (VLA). Numa perspectiva óptica, a sua zona central é uma mistura de gás, pó e estrelas, mas com o rádio e o raio-X detecta-se uma notável emissão de partículas de alta energia espraiando-se a partir do centro da galáxia até uma distância de 13.000 anos-luz, produzida por um buraco-negro cuja massa equivale a 10.000 de vezes a massa do Sol.
Pensa-se que a Centauro A tenha sido formada há cerca de 100 milhões de anos.

De todas estas informações, sem dúvida importantes, são de realçar as que se referem às diferenças entre os dados obtidos por cada um dos instrumentos de observação, facilmente identificáveis nas fotografias: colocam interessantes questões no que se refere à natureza do conhecimento em geral e do científico em particular.

2.13.2008

Os erros


Na imagem, Epimetheus, satélite de Saturno, fotografado pela nave Cassini.

Todas as formas de pensar que observamos em nós podem ser referidas a duas gerais: uma consiste em apreender através do nosso entendimento, a outra a determinar-se pela vontade. Deste modo, sentir, imaginar e mesmo conceber coisas puramente inteligíveis, não são mais do que maneiras diferentes de apreender; mas desejar, ter aversão, afirmar, negar, duvidar, são diferentes formas de querer.

Quando apreendemos alguma coisa, não corremos o risco de nos enganarmos se não a julgarmos de um modo algum; e, ainda que a ajuizemos, não nos enganaremos se só dermos a nossa aprovação àquilo que sabemos clara e distintamente estar compreendido no que ajuizamos. Mas o que faz com que habitualmente nos enganemos é que julgamos muitas vezes sem ter um conhecimento muito exacto daquilo que julgamos.
Princípios da Filosofia

Com esta obra, Descartes pretendia definir os verdadeiros Princípios da Filosofia, contendo verdades muito claras e muito evidentes que poderiam acabar com todos os motivos de discussão, guiando as pessoas no caminho da descoberta de outras verdades. Tinha, no entanto, consciência de que poderão passar-se vários séculos antes que se tenham deduzido desses Princípios todas as verdades.

Isto não vos lembra nada?

Nebulosa NGC 3132


Esta fotografia tenta tirar partido do jogo entre simetria e assimetria da forma desta nebulosa, que lhe dá um carácter muito próprio.
As razões da forma invulgar do invólucro e da estrutura e localização dos filamentos de poeira que atravessam a nebulosa deixam ainda algumas dúvidas aos especialistas.

UNIVERSO


Galáxia M74
AQUI
Este site tem todos os dias uma nova fotografia de algo relacionado com a ciência e a exploração do espaço exterior. Como tal, é um interessante meio de compararmos as várias concepções de conhecimento com os resultados da investigação científica.

Na unidade seguinte, vamos falar precisamente da ciência, do modo como evolui, dos seus fundamentos e da natureza do método científico.
Antes disso, ainda vamos discutir se as representações que temos da realidade são a própria realidade ou se são de uma natureza diferente daquela - como é apontado por David Hume.

O facto de percepcionarmos aspectos diferentes das Galáxias conforme os instrumentos usados para as observar é uma das pistas para esse debate.

2.12.2008

David Hume


David Hume, 1711-1776, escocês de Edimburgo, é considerado o mais importante dos filósofos de língua inglesa.
A Treatise of Human Nature (1739-1740), Enquiries concerning Human Understanding (1748) Enquiries concerning the Principles of Morals (1751), e Dialogues concerning Natural Religion (1779), estes últimos publicados postumamente, são obras que ainda hoje têm uma larga influência.

O incontornável Imanuel Kant reconheceu que Hume o "acordou do seu sono dogmático", despertando-o para a necessidade de fazer a crítica dos limites do conhecimento humano.
Hoje em dia, os filósofos reconhecem-no como percursor da perspectiva científica contemporânea e expoente máximo do naturalismo filosófico.
Fonte: Stanford Encyclopedia of Philosophy

A sua análise da dúvida metódica cartesiana permite-nos um outro olhar sobre este aspecto do pensamento de Descartes.

Os erros dos sentidos



Não preciso de insistir nos argumentos mais triviais utilizados pelos cépticos de todas as épocas contra os dados dos sentidos. Como os que se reportam às falhas e imperfeições dos nossos órgãos em inúmeras ocasiões, à aparência distorcida de um remo na água, às diferentes perspectivas dos objectos conforme as suas distâncias, às imagens duplas produzidas ao pressionarmos os olhos e a muitos outros fenómenos da mesma natureza. Na verdade, esses argumentos cépticos são apenas suficientes para provar que os sentidos, só por si, não são algo em que se possa confiar implicitamente, mas que o seu testemunho tem de ser corrigido pela razão e por considerações relacionadas com a natureza do meio, da distância do objecto e da disposição do órgão, para que se tornem, no seu âmbito próprio, critérios adequados de verdade e falsidade. Há outros argumentos mais profundos contra os sentidos, que não admitem uma solução tão fácil.

Parece evidente que as pessoas são levadas por um instinto ou predisposição natural a depositar fé nos seus sentidos e que, sem qualquer raciocínio supomos sempre um universo exterior que não depende da nossa percepção, e que existiria mesmo que nós e todas as outras criaturas sensíveis não existíssemos ou fôssemos aniquilados. Mesmo o reino animal se rege por uma opinião semelhante e conserva essa crença nos objectos exteriores em todos os seus pensamentos, desígnios e acções.
Também parece evidente que, quando as pessoas seguem este cego e poderosos instinto da natureza, tomam sempre as próprias imagens representadas pelos sentidos como sendo os próprios objectos externos, jamais suspeitando que as primeiras não passam de representações dos segundos.

A Dúvida Cartesiana


Existe uma espécie de cepticismo anterior a todo o estudo da filosofia, fortemente recomendado por Descartes e outros como uma protecção eficaz contra os erros e os juízos precipitados. Este cepticismo recomenda uma dúvida universal, não só quanto às nossas opiniões e princípios prévios, como também quanto às nossas próprias faculdades; faculdades essas de cuja veracidade, dizem, nos devemos assegurar por meio de uma cadeia de raciocínios deduzida de um princípio original que não possa de modo algum ser falacioso ou enganador. Mas por um lado não há um tal princípio original, dotado de uma qualquer prerrogativa sobre outros que são auto-evidentes e convincentes, e por outro, se ele existisse não poderíamos avançar um passo que fosse além dele, a não ser usando aquelas mesmas faculdades das quais já se supõe que desconfiamos.

Logo, a dúvida cartesiana, ainda que qualquer criatura a pudesse atingir (coisa que claramente não pode), seria totalmente incurável e nenhum raciocínio poderia alguma vez conduzir-nos a um estado de certeza e convicção sobre o que quer que fosse.

Contudo, tem de se confessar que esse tipo de cepticismo, quando mais moderado, pode ser entendido num sentido muito razoável e constitui uma preparação necessária para o estudo da filosofia, preservando uma adequada imparcialidade nos nossos juízos e libertando o espírito de todos os preconceitos que nos possam ter sido incutidos pela educação ou por opiniões precipitadas. Partir de princípios claros e auto-evidentes, avançar com passos seguros e cautelosos, rever frequentemente as nossas conclusões , examinando cuidadosamente todas as consequências; embora tais meios tornem o progresso dos nossos sistemas mais lento e limitado, são os únicos métodos que nos permitem esperar algum dia alcançar a verdade, chegando a uma adequada estabilidade e certeza nas nossas definições.

2.10.2008

Tópicos para Discussão



*Descartes conseguiu efectivamente refutar os cépticos?

*O argumento de Descartes a favor da existência de Deus é um bom argumento?

*O cogito é uma afirmação ou um argumento?

*Só podemos ter a garantia de que é verdadeiro o que concebemos clara e distintamente, porque sabemos que Deus existe; e sabemos que Deus existe, porque concebemos clara e distintamente a Sua existência; será este um raciocínio correcto?

A Regra da Evidência


Eu compreendia bem que os três ângulos de um triângulo são iguais a dois ângulos rectos. Apesar disso, nada via que me garantisse que no mundo exista qualquer triângulo. Mas ao examinar a ideia de um ser perfeito notava que a existência está contida nessa ideia, de um modo talvez ainda mais evidente do que está compreendido na ideia de triângulo que a soma dos seus três ângulos é igual a dois rectos. Assim, é pelo menos tão certo como em qualquer demonstração de geometria que Deus existe.

Na verdade, aquela regra que adoptei, isto é, que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são inteiramente verdadeiras, só é certa porque Deus existe – ser perfeito de quem nos vem tudo o que existe em nós. Segue-se que as nossas ideias ou noções – coisas reais que provêm de Deus – não podem deixar de ser verdadeiras sempre que sejam claras e distintas.
Mas se não soubéssemos que tudo o que de real e verdadeiro existe em nós provêm de um ser perfeito e infinito, por muito que as nossas ideias fossem claras e distintas, nenhuma razão teríamos que nos certificasse que elas possuem a perfeição de serem verdadeiras.

Note-se que falo da razão e não da imaginação ou dos sentidos. Porque embora vejamos o sol muito claramente, não devemos julgar por isso que ele tem a grandeza que lhe vemos, e até podemos imaginar distintamente uma cabeça de leão num corpo de cabra, sem que por causa disso tenhamos de concluir que existem no mundo tais quimeras, porque a razão não garante que seja verdadeiro o que assim vemos ou imaginamos. Mas garante-nos que todas as nossas ideias ou noções devem ter algum fundamento verdadeiro, pois não seria possível que Deus, que é eminentemente perfeito e verdadeiro, as tivesse posto em nós sem isso.

2.09.2008

René Descartes


Desde os famosos gráficos cartesianos, que permitem representar quantidades sem recorrer aos símbolos numéricos, até à investigação filosófica da possibilidade e natureza do conhecimento, este homem representa um marco importante na cultura do mundo europeu.
Hoje em dia é difícil percebermos o quanto é revolucionário filosofar na primeira pessoa: EU PENSO LOGO EXISTO é algo que nunca poderia ser afirmado por um pensador medieval. Este citaria autoridades intelectuais para expor um ponto de vista. Podemos então entender perfeitamente que Descartes, pensador francês do conturbado século XVII dê início ao chamado período Moderno da nossa História da Filosofia.

A investigar: a ligação entre os gráficos cartesianos e o funcionamento do hardware dos computadores.

2.06.2008

A existência de Deus; o critério da evidência racional


Depois examinei com atenção que coisa eu era, e vi que podia supor que não tinha corpo e que não havia qualquer mundo ou lugar onde existisse, mas que apesar disso não podia admitir que não existia. Pelo contrário, porque pensava, ao duvidar da verdade das outras coisas, tinha de admitir como muito evidente e muito certo que existia, ao passo que bastava que tivesse deixado de pensar para deixar de ter qualquer razão para acreditar que existia, mesmo que tudo o que tinha imaginado fosse verdadeiro.

Depois disto considerei o que de uma maneira geral é indispensável a uma proposição para ser verdadeira. Como acabava de encontrar uma com esses requisitos, pensei que era preciso também saber em que consiste essa certeza. E tendo notado que nada há no eu penso logo existo que me garanta que digo a verdade a não ser que concebo muito claramente que para pensar é preciso existir, julguei que podia admitir como regra geral que é verdadeiro tudo aquilo que concebemos muito clara e distintamente.

Depois, ao reflectir que não era completamente perfeito visto que duvidava – e que via claramente que conhecer é uma perfeição maior do que duvidar – lembrei-me de procurar de onde me teria vindo o pensamento de alguma coisa mais perfeita do que eu, tendo percebido com toda a evidência que deveria ter vindo de algum ser cuja natureza fosse efectivamente mais perfeita.

Não me era difícil saber de onde me teriam vindo os pensamentos que tinha de muitas outras coisas exteriores a mim, como do céu, da terra, da luz, do calor e de muitas outras, pois nesses pensamentos não notava nada de superior a mim. Mas já não acontecia o mesmo com a ideia de um ser mais perfeito do que eu, pois ter formado essa ideia do nada era manifestamente impossível. E porque repugna tanto admitir que o mais perfeito seja uma consequência e dependa do menos perfeito como repugna admitir que algo possa surgir do nada, não podia também aceitar que tivesse sido criada por mim próprio. De maneira que restava apenas admitir que essa ideia tivesse sido posta em mim por um ser cuja natureza fosse verdadeiramente mais perfeita do que a minha, e que tivesse em si todas as perfeições que eu pudesse idealizar, ou seja, numa só palavra, que fosse Deus.

Penso logo existo


No que se refere à conduta, já há muito tinha notado que por vezes é necessário seguir como certas opiniões que sabemos serem muito incertas. Mas agora que resolvi dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exactamente ao contrário, e rejeitar como falso tudo aquilo que pudesse suscitar a menor dúvida, para ver se depois disso algo restaria nas minhas opiniões que fosse absolutamente indubitável.

Assim, porque os nossos sentidos por vezes nos enganam, decidi supor que nos enganam sempre. E porque há pessoas que se enganam ao raciocinar, até nos aspectos mais simples da geometria, fazendo raciocínios incorrectos, rejeitei como falsas todas as razões que até então me tinham parecido aceitáveis, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outra pessoa. Por fim, considerando que os pensamentos que temos quando estamos acordados podem ocorrer também quando dormimos, não sendo neste caso verdadeiros, resolvi supor que tudo o que até então tinha acolhido no meu pensamento não era mais verdadeiro do que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo a seguir notei que enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim pensava, necessariamente era alguma coisa.

E tendo notado que esta verdade eu penso logo existo era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a poderia aceitar sem escrúpulo como primeiro princípio da filosofia que procurava.