4.13.2008

O conhecimento da Causalidade



Quando David Hume analisa o problema da causalidade, está a sublinhar a diferença lógica que existe entre considerar o princípio de causalidade como descrevendo uma CONJUNÇÃO CONSTANTE ou uma CONEXÃO NECESSÁRIA.

Isto remete para a diferença que para ele existe entre as proposições que exprimem relações de ideias e aquelas que exprimem questões de facto.
As relações entre ideias implicam a necessidade lógica, ou seja: uma vez aceites como verdadeiras, a sua negação implica a contradição.
Exemplo: 12+3=20-5. Não podemos negar esta proposição sem nos contradizermos, se a referência for sempre o sistema decimal.

As questões de facto, por sua vez, exprimem verdades contingentes. Isto quer dizer que exprimem factos que podem acontecer ou não. Exemplo: Quando forem 15 horas estará a chover. Isto é contingente, pode acontecer ou não. Quer não aconteça, quer aconteça, não há contradição, porque no domínio dos factos não existe necessidade lógica. Eu consigo pensar sem problemas tanto o facto de chover como o de não chover. Mas não consigo pensar que 15 seja diferente de 15 (ver o exemplo acima) sem criar um grave problema lógico.

Ora, enquanto empirista, ele considera que todo o conhecimento factual é obtido através do raciocínio indutivo: a partir das impressões simples recebidas pelos sentidos a partir dos objectos observados, obtenho impressões complexas que servem de base ao meu pensamento. Com elas posso construir um conhecimento fiável dos acontecimentos, dos factos que realmente ocorrem. Assim sendo, o princípio da causalidade limita-se a registar conjunções constantes entre factos, isto é: verdades contingentes. Não poderá exprimir relações logicamente necessárias entre fenómenos, porque tal qualidade só pertence ao argumento dedutivo, e o conhecimento factual tem origem indutiva, como já foi referido.

Para que a causalidade pudesse ter o estatuto de princípio dotado de necessidade lógica, teria de ter origem no entendimento e não na observação empírica. Hume, sendo empirista, não aceita que o conhecimento factual possa ser obtido a partir da Razão, e portanto não pode aceitar esse carácter constringente da causalidade como princípio logicamente necessário. Para ele, a conexão causal resulta do hábito: habituados a observar conjunções constantes entre fenómenos, passamos a considerar que essa conjunção existe na realidade, em vez de ser produto de um hábito do nosso espírito, quando na realidade não é possível observar a causalidade em si, mas apenas uma sucessão de factos que acontecem uns a seguir aos outros.

Ora o princípio da causalidade é um dos fundamentos do método científico. Se lhe retiramos o carácter de necessidade lógica, ficamos com a ciência fragilizada. Por isso dizemos que Hume apresenta um CEPTICISMO MITIGADO, isto é, moderado.

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