1.13.2008

Algumas dicas sobre o TEETETO


Para compreendermos a questão levantada no Teeteto, convém lembrar que existem diferentes géneros de conhecimento:
• Por contacto
• Prático (saber-fazer)
• Proposicional
Iremos ver mais detalhadamente esta questão na aula. Para já, basta sabermos que neste diálogo de Platão se aborda precisamente o conhecimento proposicional, ou seja aquele que se exprime por uma proposição, do tipo: Eu sei que o teste de Filosofia foi no dia nove.

O diálogo Teeteto, tal como os outros diálogos de Platão, ilustra o método da dialéctica platónica.
Teeteto é uma pessoa real, como todos os interlocutores de Sócrates nas obras de Platão. Enquanto promissor aluno de Teodoro de Cyrene, um conhecido matemático, Teeteto é a pessoa indicada para colaborar na investigação sobre o que é o conhecimento. É nessa qualidade que Sócrates o interroga, (ironia) utilizando as respostas do jovem para, no processo dialéctico de eliminar as contradições, se aproximar de um conceito que permita uma definição unívoca do assunto em análise, neste caso o conhecimento. É a argumentação ao serviço do conhecimento e da verdade, a Dialéctica que Platão opõe à Retórica utilizada pelos Sofistas.

Esse conceito verdadeiro será obtido pela maiêutica, o processo de ajudar um espírito a dar à luz os conhecimentos esquecidos pela alma em consequência da sua união com o corpo.
Na unidade anterior vimos como a concepção platónica do real fundamenta este ponto de vista sobre a diferença entre opinião ou crença, por um lado, e a ciência (o verdadeiro conhecimento) por outro.
Como veremos a seguir, há objecções sérias a esta definição do conhecimento como crença verdadeira justificada.
Na verdade, a definição a que se chega no diálogo entre Sócrates e Teeteto não satisfaz as necessidades da Razão, e é isso mesmo que aquele exprime na última fala do excerto apresentado.
Recentemente, Edmund Gettier apresentou interessantes contra-exemplos à análise platónica.
Iremos estudá-los a seguir.

1.12.2008

Opinião Verdadeira Justificada



Como já vimos, para Platão há uma diferença entre opinião e ciência. Neste diálogo, Sócrates fala com um jovem - Teeteto - sobre o conhecimento. No ponto do Diálogo citado no post anterior, a definição de conhecimento está neste ponto: será o conhecimento uma opinião verdadeira justificada?
Vemos aqui um exemplo do que é o processo da pesquisa filosófica em Platão: vai-se avançando aos poucos na busca de uma definição rigorosa, eliminando as contradições à medida que elas surgem no processo dialéctico. Chamo ainda a atenção para a última afirmação de Sócrates, que deixa em aberto a conclusão e sublinha a necessidade permanente da pesquisa filosófica.

O Conhecimento



Sócrates - Qual é então a melhor definição?
Teeteto – Que a ciência é a opinião verdadeira. A opinião verdadeira, assim parece, é infalível, e tudo o que dela resulta é belo e é bom.
Sócrates – Não há como experimentar para ver, Teeteto, como diz o guia na passagem do rio. Também aqui, só temos que avançar na nossa busca. (…) Ora, há uma profissão que só por si mostra bem que a opinião verdadeira não é a ciência.
Teeteto - Como assim? Qual profissão?
Sócrates – Aqueles que são designados por oradores e advogados. Essas pessoas, pela sua arte, produzem a convicção, não por ensinarem, mas por sugerirem opiniões conforme lhes agrada. Ou acreditas que haja mestres tão hábeis que posssam, em tão pouco tempo, ensinar a verdade sobre um roubo ou qualquer outra violência a um auditório que não testemunhou os acontecimentos?
Teeteto – Não acredito de modo nenhum; a única coisa que fazem é persuadi-los.
Sócrates – Mas não achas que persuadir alguém é fazê-lo ter uma opinião?
Teeteto – Sem dúvida.
Sócrates – Então, quando o juízes se encontram precisamente persuadidos acerca de factos que só uma testemunha ocular e mais ninguém pode conhecer, não é verdade que, tendo formado uma opinião verdadeira com base no que ouviram dizer, pronunciam uma sentença desprovida de ciência, embora tendo uma convicção verdadeira, caso tenham decidido com justiça?
Teeteto – Decerto!
Sócrates – Mas, meu amigo, se, nos juízes, a opinião verdadeira e a ciência fossem a mesma coisa, nunca o melhor dos juízes teria uma opinião recta sem ciência. Mas de facto vemos que são duas coisas diferentes.
Teeteto – Alguém dizia que a ciência é a opinião verdadeira acompanhada de razão, mas que, se desprovida de razão, nada tem a ver com a ciência, e que as coisas às quais não podemos aplicar a razão são incognoscíveis – era a expressão que ele usava- e aquelas às quais a podemos aplicar são cognoscíveis.
Sócrates – Bem dito. Mas como distinguia ele o que é cognoscível daquilo que o não é?
Teeteto – Mas não sei se conseguirei lembrar-me…
Sócrates – Vê se o que eu vou dizer te faz lembrar alguma coisa: Os primeiros elementos que compõem a realidade não admitem qualquer explicação racional. Cada elemento tomado sozinho, só pode ser nomeado, e não se pode dizer mais nada acerca dele, nem que é nem que não é. Nada lhe podemos juntar, se quisermos exprimir apenas esse elemento. De facto, nenhum dos elementos primeiros pode exprimir-se através de uma definição: só pode ser nomeado, pois nada mais é que um nome. Pelo contrário, para os seres compostos desses elementos, por serem complexos, existem nomes complexos, que se tornam explicáveis. Assim, os elementos são irracionais e incognoscíveis, embora perceptíveis, enquanto que as sílabas são cognoscíveis, capazes de serem expressas e objecto de opinião verdadeira. Logo, quando formamos sem raciocínio uma opinião verdadeira sobre qualquer objecto, a alma detém a verdade sobre esse objecto, mas não o sabe, pois aquele que não pode nem dar nem receber uma explicação racional sobre qualquer coisa, mantém-se na ignorância acerca dessa mesma coisa. Mas se à opinião verdadeira ele acrescenta essa explicação racional, tudo isso se torna possível, e ele possui a ciência perfeita. Foi isto que te disseram?
Teeteto – Foi exactamente isso.
Sócrates – Admites então que a ciência é a opinião verdadeira acompanhada de razão?
Teeteto – Perfeitamente.
Sócrates – Há aqui, no entanto, um aspecto que me desagrada…
Platão, TEETETO, 200d- 202d (adaptado)

Platão e Dimensões Matemáticas


Rafaello Sanzio, Platão e Aristóteles

Platão é o filósofo sobre o qual estamos a falar em filosofia.
Numa conversa com a professora reparei numa semelhança interessante entre a teoria que estou a estudar e as dimensões matemáticas, assunto sobre o qual já escrevi em tempos. Aliás, foi professora que me deu a ideia deste post.

Comecemos então!
Platão via o mundo de uma maneira particular...
Para Platão nada deste mundo correspondia à verdade, o filósofo dizia que havia dois mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível. O mundo sensível é este onde nos encontramos, é o mundo dos sentidos, dos objectos físicos e das sombras.
O mundo inteligível é o mundo das ideias, dos conceitos, e para Platão as ideias correspondiam à verdade.
Platão dizia que neste mundo nada corresponde à verdade, pois a verdade são as ideias, que tudo neste mundo é uma cópia imperfeita das ideias.
Segundo ele a nossa alma já teve acesso às ideias, pois vivia no mundo inteligível a olhar para elas, portanto, nossa alma conhecia a verdade. Mas por algum motivo, o qual não vos sei dizer, foi expulsa do mundo inteligível e colocada no mundo sensível, onde tudo é uma cópia imperfeita da verdade, isto é, das ideias.
Como a alma tinha vivido no mundo das ideias Platão dizia que a alma sabia da verdade, mas que quando chegava a este mundo se esquecia da verdade. Platão dizia também que a alma podia recordar do que se tinha esquecido e isto podia ser feito através de uma técnica de argumentação chamada dialéctica.
A dialéctica consiste num diálogo onde se vão expondo ideias e eliminando contradições até se chegar a um conceito, e esse conceito é muito próximo da Ideia mas não é a própria Ideia.
E o que é que isto tudo tem a ver com as dimensões matemáticas?
Bem, um exemplo que a professora deu e a partir do qual eu fiz a analogia foi o seguinte: O mundo sensível é como se fosse uma sombra do mundo inteligível.
Ora, se o mundo sensível é a sombra do mundo inteligível, isso quer dizer que o mundo das ideias de Platão é a 4 dimensões, isto porque a sombra tem sempre menos uma dimensão que a entidade que a origina. Se o mundo sensível tem 3 dimensões e é a sombra do mundo inteligível, então chegamos à conclusão de que o mundo das ideias é um mundo a 4 dimensões =)
Não sei se isto é muito válido do ponto de vista filosófico, mas enfim, foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando a professora disse aquilo =P
Carla Borges, 11A