2.28.2008

Contra o Método 1


Capítulo II
... O único princípio que não inibe a ideia de progresso é: qualquer coisa serve.

A ideia de um método que inclua princípios firmes, imutáveis e absolutamente vinculativos de condução dos assuntos da ciência depara com dificuldades consideráveis quando a confrontamos com os resultados da investigação histórica. Descobrimos, com efeito, que não há uma única regra, ainda que plausível e ainda que firmemente alicerçada em termos epistemológicos, que não tenha sido uma ou outra vez violada. Torna-se evidente que tais violações não acontecem por acaso, não são o resultado de uma qualquer insuficiência do conhecimento ou de desatenção susceptíveis de serem evitadas. Pelo contrário, vemos que foram elementos necessários ao progresso.
Na realidade, um dos aspectos mais notáveis dos debates recentes em história e filosofia da ciência é a compreensão de que factos e evoluções, como a invenção do atomismo na Antiguidade, a Revolução Coperniciana, a emergência do atomismo contemporâneo (teoria cinética; teoria da dispersão; estereoquímica; teoria quântica) a afirmação gradual da teoria ondulatória da luz, só ocorreram porque certos pensadores ou decidiram não se deixar limitar por certas regras de método "óbvias" ou romperam inconscientemente com elas.
Esta prática liberal, repito, não é só um facto
da história da ciência. É algo que é ao mesmo tempo racional e absolutamente necessário no progresso do conhecimento.

Mais especificamente, é possível demonstrar o seguinte: há sempre circunstâncias em que é aconselhável não só ignorar como contrariar uma dada regra, ainda que seja "fundamental" ou "racional".
Por exemplo, há circunstâncias em que é aconselhável introduzir hipóteses ad hoc, ou hipóteses que contrariem resultados experimentais bem estabelecidos e geralmente aceites.
(adaptado)

2.19.2008

As Regras do Método


Em vez do grande número de preceitos que compõem a lógica, cuidei bastarem-me os quatro seguintes, desde que eu tomasse a firme e constante resolução de nem uma só vez deixar de os observar.
O primeiro era o de jamais receber por verdadeira coisa alguma que eu não conhecesse evidentemente como tal: isto é, o de evitar cuidadosamente a precipitação e o preconceito, aceitando nos meus juízos apenas o que se apresentasse tão claramente e tão distintamente ao meu espírito que não teria qualquer ocasião de o pôr em dúvida.
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quanto fosse possível e requerido para melhor as resolver.
O terceiro, o de conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objectos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco até ao conhecimento dos mais complexos.
E o último, o de fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais que fique seguro de nada omitir.
Discurso do Método (adaptado)

2.18.2008

Telescópio Binocular



Situado no Mount Graham, Arizona, é conhecido como LBT (Large Binocular Telescope).
A investigação é assegurada por uma equipa internacional de cientistas.
Os dois espelhos de 8.4 metros de diâmetro estão colocados lado-a-lado, reproduzindo o desenho dos vulgares óculos. Esta configuração binocular apresenta largos benefícios
se comparada com a dos vulgares telescópios com um só espelho, no que se refere tanto à sensibilidade como à alta resolução das imagens num campo de observação relativamente alargado.

Aqui está um exemplo do modo como os instrumentos de observação interferem na recolha de dados, e de como tecnologia e ciência se articulam estreitamente.
O que nos leva à questão dos fundamentos da investigação científica: serão indutivos ou hipotético-dedutivos? Este é um tema a explorar mais à frente.

Ah, e no céu vemos a parte norte da Via Láctea, a Galáxia a que pertence o Sistema Solar.

LÁGRIMA DE PRETA



Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão é o pseudónimo do cientista e professor de Química Rómulo de Carvalho, que marcou várias gerações de alunos no Liceu Camões em Lisboa.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 — Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997) foi professor, pedagogo, investigador de História da Ciência e poeta.

Este bonito poema, ao unir a poesia e a química para tratar uma questão social, revela não só o talento mas também a sensibilidade do autor.

É também da sua autoria a PEDRA FILOSOFAL, donde foi extraído o lema deste blog.

2.14.2008

Centauro A


A Centauro A é uma galáxia elíptica gigante, e a galáxia activa mais próxima da Terra, pois encontra-se apenas a 11 milhões de anos-luz. Nesta imagem vemos imagens obtidas através de sistemas de raio-X (Chandra), ópticos (ESO) e rádio (VLA). Numa perspectiva óptica, a sua zona central é uma mistura de gás, pó e estrelas, mas com o rádio e o raio-X detecta-se uma notável emissão de partículas de alta energia espraiando-se a partir do centro da galáxia até uma distância de 13.000 anos-luz, produzida por um buraco-negro cuja massa equivale a 10.000 de vezes a massa do Sol.
Pensa-se que a Centauro A tenha sido formada há cerca de 100 milhões de anos.

De todas estas informações, sem dúvida importantes, são de realçar as que se referem às diferenças entre os dados obtidos por cada um dos instrumentos de observação, facilmente identificáveis nas fotografias: colocam interessantes questões no que se refere à natureza do conhecimento em geral e do científico em particular.

2.13.2008

Os erros


Na imagem, Epimetheus, satélite de Saturno, fotografado pela nave Cassini.

Todas as formas de pensar que observamos em nós podem ser referidas a duas gerais: uma consiste em apreender através do nosso entendimento, a outra a determinar-se pela vontade. Deste modo, sentir, imaginar e mesmo conceber coisas puramente inteligíveis, não são mais do que maneiras diferentes de apreender; mas desejar, ter aversão, afirmar, negar, duvidar, são diferentes formas de querer.

Quando apreendemos alguma coisa, não corremos o risco de nos enganarmos se não a julgarmos de um modo algum; e, ainda que a ajuizemos, não nos enganaremos se só dermos a nossa aprovação àquilo que sabemos clara e distintamente estar compreendido no que ajuizamos. Mas o que faz com que habitualmente nos enganemos é que julgamos muitas vezes sem ter um conhecimento muito exacto daquilo que julgamos.
Princípios da Filosofia

Com esta obra, Descartes pretendia definir os verdadeiros Princípios da Filosofia, contendo verdades muito claras e muito evidentes que poderiam acabar com todos os motivos de discussão, guiando as pessoas no caminho da descoberta de outras verdades. Tinha, no entanto, consciência de que poderão passar-se vários séculos antes que se tenham deduzido desses Princípios todas as verdades.

Isto não vos lembra nada?

Nebulosa NGC 3132


Esta fotografia tenta tirar partido do jogo entre simetria e assimetria da forma desta nebulosa, que lhe dá um carácter muito próprio.
As razões da forma invulgar do invólucro e da estrutura e localização dos filamentos de poeira que atravessam a nebulosa deixam ainda algumas dúvidas aos especialistas.

UNIVERSO


Galáxia M74
AQUI
Este site tem todos os dias uma nova fotografia de algo relacionado com a ciência e a exploração do espaço exterior. Como tal, é um interessante meio de compararmos as várias concepções de conhecimento com os resultados da investigação científica.

Na unidade seguinte, vamos falar precisamente da ciência, do modo como evolui, dos seus fundamentos e da natureza do método científico.
Antes disso, ainda vamos discutir se as representações que temos da realidade são a própria realidade ou se são de uma natureza diferente daquela - como é apontado por David Hume.

O facto de percepcionarmos aspectos diferentes das Galáxias conforme os instrumentos usados para as observar é uma das pistas para esse debate.

2.12.2008

David Hume


David Hume, 1711-1776, escocês de Edimburgo, é considerado o mais importante dos filósofos de língua inglesa.
A Treatise of Human Nature (1739-1740), Enquiries concerning Human Understanding (1748) Enquiries concerning the Principles of Morals (1751), e Dialogues concerning Natural Religion (1779), estes últimos publicados postumamente, são obras que ainda hoje têm uma larga influência.

O incontornável Imanuel Kant reconheceu que Hume o "acordou do seu sono dogmático", despertando-o para a necessidade de fazer a crítica dos limites do conhecimento humano.
Hoje em dia, os filósofos reconhecem-no como percursor da perspectiva científica contemporânea e expoente máximo do naturalismo filosófico.
Fonte: Stanford Encyclopedia of Philosophy

A sua análise da dúvida metódica cartesiana permite-nos um outro olhar sobre este aspecto do pensamento de Descartes.

Os erros dos sentidos



Não preciso de insistir nos argumentos mais triviais utilizados pelos cépticos de todas as épocas contra os dados dos sentidos. Como os que se reportam às falhas e imperfeições dos nossos órgãos em inúmeras ocasiões, à aparência distorcida de um remo na água, às diferentes perspectivas dos objectos conforme as suas distâncias, às imagens duplas produzidas ao pressionarmos os olhos e a muitos outros fenómenos da mesma natureza. Na verdade, esses argumentos cépticos são apenas suficientes para provar que os sentidos, só por si, não são algo em que se possa confiar implicitamente, mas que o seu testemunho tem de ser corrigido pela razão e por considerações relacionadas com a natureza do meio, da distância do objecto e da disposição do órgão, para que se tornem, no seu âmbito próprio, critérios adequados de verdade e falsidade. Há outros argumentos mais profundos contra os sentidos, que não admitem uma solução tão fácil.

Parece evidente que as pessoas são levadas por um instinto ou predisposição natural a depositar fé nos seus sentidos e que, sem qualquer raciocínio supomos sempre um universo exterior que não depende da nossa percepção, e que existiria mesmo que nós e todas as outras criaturas sensíveis não existíssemos ou fôssemos aniquilados. Mesmo o reino animal se rege por uma opinião semelhante e conserva essa crença nos objectos exteriores em todos os seus pensamentos, desígnios e acções.
Também parece evidente que, quando as pessoas seguem este cego e poderosos instinto da natureza, tomam sempre as próprias imagens representadas pelos sentidos como sendo os próprios objectos externos, jamais suspeitando que as primeiras não passam de representações dos segundos.

A Dúvida Cartesiana


Existe uma espécie de cepticismo anterior a todo o estudo da filosofia, fortemente recomendado por Descartes e outros como uma protecção eficaz contra os erros e os juízos precipitados. Este cepticismo recomenda uma dúvida universal, não só quanto às nossas opiniões e princípios prévios, como também quanto às nossas próprias faculdades; faculdades essas de cuja veracidade, dizem, nos devemos assegurar por meio de uma cadeia de raciocínios deduzida de um princípio original que não possa de modo algum ser falacioso ou enganador. Mas por um lado não há um tal princípio original, dotado de uma qualquer prerrogativa sobre outros que são auto-evidentes e convincentes, e por outro, se ele existisse não poderíamos avançar um passo que fosse além dele, a não ser usando aquelas mesmas faculdades das quais já se supõe que desconfiamos.

Logo, a dúvida cartesiana, ainda que qualquer criatura a pudesse atingir (coisa que claramente não pode), seria totalmente incurável e nenhum raciocínio poderia alguma vez conduzir-nos a um estado de certeza e convicção sobre o que quer que fosse.

Contudo, tem de se confessar que esse tipo de cepticismo, quando mais moderado, pode ser entendido num sentido muito razoável e constitui uma preparação necessária para o estudo da filosofia, preservando uma adequada imparcialidade nos nossos juízos e libertando o espírito de todos os preconceitos que nos possam ter sido incutidos pela educação ou por opiniões precipitadas. Partir de princípios claros e auto-evidentes, avançar com passos seguros e cautelosos, rever frequentemente as nossas conclusões , examinando cuidadosamente todas as consequências; embora tais meios tornem o progresso dos nossos sistemas mais lento e limitado, são os únicos métodos que nos permitem esperar algum dia alcançar a verdade, chegando a uma adequada estabilidade e certeza nas nossas definições.

2.10.2008

Tópicos para Discussão



*Descartes conseguiu efectivamente refutar os cépticos?

*O argumento de Descartes a favor da existência de Deus é um bom argumento?

*O cogito é uma afirmação ou um argumento?

*Só podemos ter a garantia de que é verdadeiro o que concebemos clara e distintamente, porque sabemos que Deus existe; e sabemos que Deus existe, porque concebemos clara e distintamente a Sua existência; será este um raciocínio correcto?

A Regra da Evidência


Eu compreendia bem que os três ângulos de um triângulo são iguais a dois ângulos rectos. Apesar disso, nada via que me garantisse que no mundo exista qualquer triângulo. Mas ao examinar a ideia de um ser perfeito notava que a existência está contida nessa ideia, de um modo talvez ainda mais evidente do que está compreendido na ideia de triângulo que a soma dos seus três ângulos é igual a dois rectos. Assim, é pelo menos tão certo como em qualquer demonstração de geometria que Deus existe.

Na verdade, aquela regra que adoptei, isto é, que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são inteiramente verdadeiras, só é certa porque Deus existe – ser perfeito de quem nos vem tudo o que existe em nós. Segue-se que as nossas ideias ou noções – coisas reais que provêm de Deus – não podem deixar de ser verdadeiras sempre que sejam claras e distintas.
Mas se não soubéssemos que tudo o que de real e verdadeiro existe em nós provêm de um ser perfeito e infinito, por muito que as nossas ideias fossem claras e distintas, nenhuma razão teríamos que nos certificasse que elas possuem a perfeição de serem verdadeiras.

Note-se que falo da razão e não da imaginação ou dos sentidos. Porque embora vejamos o sol muito claramente, não devemos julgar por isso que ele tem a grandeza que lhe vemos, e até podemos imaginar distintamente uma cabeça de leão num corpo de cabra, sem que por causa disso tenhamos de concluir que existem no mundo tais quimeras, porque a razão não garante que seja verdadeiro o que assim vemos ou imaginamos. Mas garante-nos que todas as nossas ideias ou noções devem ter algum fundamento verdadeiro, pois não seria possível que Deus, que é eminentemente perfeito e verdadeiro, as tivesse posto em nós sem isso.

2.09.2008

René Descartes


Desde os famosos gráficos cartesianos, que permitem representar quantidades sem recorrer aos símbolos numéricos, até à investigação filosófica da possibilidade e natureza do conhecimento, este homem representa um marco importante na cultura do mundo europeu.
Hoje em dia é difícil percebermos o quanto é revolucionário filosofar na primeira pessoa: EU PENSO LOGO EXISTO é algo que nunca poderia ser afirmado por um pensador medieval. Este citaria autoridades intelectuais para expor um ponto de vista. Podemos então entender perfeitamente que Descartes, pensador francês do conturbado século XVII dê início ao chamado período Moderno da nossa História da Filosofia.

A investigar: a ligação entre os gráficos cartesianos e o funcionamento do hardware dos computadores.

2.06.2008

A existência de Deus; o critério da evidência racional


Depois examinei com atenção que coisa eu era, e vi que podia supor que não tinha corpo e que não havia qualquer mundo ou lugar onde existisse, mas que apesar disso não podia admitir que não existia. Pelo contrário, porque pensava, ao duvidar da verdade das outras coisas, tinha de admitir como muito evidente e muito certo que existia, ao passo que bastava que tivesse deixado de pensar para deixar de ter qualquer razão para acreditar que existia, mesmo que tudo o que tinha imaginado fosse verdadeiro.

Depois disto considerei o que de uma maneira geral é indispensável a uma proposição para ser verdadeira. Como acabava de encontrar uma com esses requisitos, pensei que era preciso também saber em que consiste essa certeza. E tendo notado que nada há no eu penso logo existo que me garanta que digo a verdade a não ser que concebo muito claramente que para pensar é preciso existir, julguei que podia admitir como regra geral que é verdadeiro tudo aquilo que concebemos muito clara e distintamente.

Depois, ao reflectir que não era completamente perfeito visto que duvidava – e que via claramente que conhecer é uma perfeição maior do que duvidar – lembrei-me de procurar de onde me teria vindo o pensamento de alguma coisa mais perfeita do que eu, tendo percebido com toda a evidência que deveria ter vindo de algum ser cuja natureza fosse efectivamente mais perfeita.

Não me era difícil saber de onde me teriam vindo os pensamentos que tinha de muitas outras coisas exteriores a mim, como do céu, da terra, da luz, do calor e de muitas outras, pois nesses pensamentos não notava nada de superior a mim. Mas já não acontecia o mesmo com a ideia de um ser mais perfeito do que eu, pois ter formado essa ideia do nada era manifestamente impossível. E porque repugna tanto admitir que o mais perfeito seja uma consequência e dependa do menos perfeito como repugna admitir que algo possa surgir do nada, não podia também aceitar que tivesse sido criada por mim próprio. De maneira que restava apenas admitir que essa ideia tivesse sido posta em mim por um ser cuja natureza fosse verdadeiramente mais perfeita do que a minha, e que tivesse em si todas as perfeições que eu pudesse idealizar, ou seja, numa só palavra, que fosse Deus.

Penso logo existo


No que se refere à conduta, já há muito tinha notado que por vezes é necessário seguir como certas opiniões que sabemos serem muito incertas. Mas agora que resolvi dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário proceder exactamente ao contrário, e rejeitar como falso tudo aquilo que pudesse suscitar a menor dúvida, para ver se depois disso algo restaria nas minhas opiniões que fosse absolutamente indubitável.

Assim, porque os nossos sentidos por vezes nos enganam, decidi supor que nos enganam sempre. E porque há pessoas que se enganam ao raciocinar, até nos aspectos mais simples da geometria, fazendo raciocínios incorrectos, rejeitei como falsas todas as razões que até então me tinham parecido aceitáveis, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outra pessoa. Por fim, considerando que os pensamentos que temos quando estamos acordados podem ocorrer também quando dormimos, não sendo neste caso verdadeiros, resolvi supor que tudo o que até então tinha acolhido no meu pensamento não era mais verdadeiro do que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo a seguir notei que enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim pensava, necessariamente era alguma coisa.

E tendo notado que esta verdade eu penso logo existo era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a poderia aceitar sem escrúpulo como primeiro princípio da filosofia que procurava.