5.11.2008

Testar Teorias


Uma vez apresentada uma nova ideia, a título provisório, e ainda antes de ser justificada – quer seja uma antecipação, uma hipótese, um sistema teórico, ou que quer que seja – extraem-se dela conclusões através da dedução lógica. Estas conclusões são então comparadas entre si e com outras afirmações relevantes, de modo a descobrir que relações lógicas (tais como equivalência, derivabilidade, compatibilidade ou incompatibilidade) existem entre elas.

Podemos distinguir quatro procedimentos diferentes para testar teorias.
Em primeiro lugar, há a comparação lógica das conclusões umas com as outras, testando-se assim a consistência interna do sistema. Em segundo lugar, há o estudo da forma lógica da teoria, com o objectivo de determinar se tem o carácter de uma teoria empírica ou científica, ou se é, por exemplo, tautológica. Em terceiro lugar, há a comparação com outras teorias, principalmente com o objectivo de determinar se a teoria se a teoria constitui um avanço científico no caso de sobreviver aos testes. Por fim, há o teste da teoria através das aplicações empíricas das conclusões que dela se podem derivar.

O propósito deste último tipo de teste é descobrir até que ponto as novas consequências da teoria satisfazem os requisitos da prática. Também aqui o procedimento de teste acaba por ser dedutivo. Com a ajuda de outras afirmações anteriormente aceites, certas afirmações singulares – a que podemos chamar previsões – são deduzidas da teoria, especialmente previsões que são facilmente testáveis ou aplicáveis.

Seguidamente, tratamos de tomar uma decisão acerca destas afirmações deduzidas, comparando-as com os resultados das aplicações práticas e das experiências.
Se esta decisão for positiva, isto é, se as conclusões singulares se tornaram aceitáveis - ou verificadas – então a teoria passou temporariamente o teste.
Mas se a decisão for negativa, ou seja, se as conclusões tiverem sido falsificadas, então a sua falsificação falsifica também a teoria da qual foram logicamente deduzidas.

Deve dizer-se que uma decisão positiva apenas temporariamente pode apoiar a teoria, pois decisões negativas posteriores podem sempre fazê-la cair.

Enquanto um teoria resiste a testes minuciosos e exigentes e não é substituída por outra teoria, podemos dizer que é corroborada.
Karl Popper, A Lógica da Investigação científica

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