2.18.2008

LÁGRIMA DE PRETA



Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão é o pseudónimo do cientista e professor de Química Rómulo de Carvalho, que marcou várias gerações de alunos no Liceu Camões em Lisboa.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 — Lisboa, 19 de Fevereiro de 1997) foi professor, pedagogo, investigador de História da Ciência e poeta.

Este bonito poema, ao unir a poesia e a química para tratar uma questão social, revela não só o talento mas também a sensibilidade do autor.

É também da sua autoria a PEDRA FILOSOFAL, donde foi extraído o lema deste blog.

17 comentários:

Anônimo disse...

O poema é realmente muito bonito =)

Anônimo disse...

Trata-se na verdade de uma genuina obra de arte da autoria do enorme António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho). Mas penso que este maravilhoso poema representa também um hino à raça humana, e constitui um marco decisivo na luta contra o racismo. O Poema foi publicado no livro Máquina de Fogo em 1961, se a memória não me falha, que consagra definitivamente o professor como grande poeta e grande cientista.Lá se canta:

Meu coração é máquina de fogo
luz de magnésio, floresta incendiada!
Combuster-se é o seu próprio desafogo.
Arde por tudo, inflama-se por nada.

Declamei a Lágrima de Preta em Fevereiro ou Março de 1967 (não tenho a certeza do mês), na Sala de la Mutualité em Paris, numa festa/comício para emigrantes. Eu declamava e ainda declamo muito mal. Só acedi, porque era necessário preencher programa, e por todos saberem quanto eu gostava do poema. Ainda hoje, sempre que tropeço nele, sinto um estranho gosto a sal , como que se uma lágrima me escorresse para a boca

Anônimo disse...

Perdão, há uma gralha: não é combuster-se, mas sim combustar-se.

Anônimo disse...

"Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito" Albert Einstein

Achei adequado =)

proffil disse...

Anónimo do dia 18: obrigada por partilhar connosco essa experiência e esse conhecimento sobre Gedeão.

proffil disse...

Anónimo do dia 19: muitíssimo adequado, sem dúvida! Obrigada!

Anônimo disse...

Pois,pois...
Mas hoje designam-se como preconceitos muitos crimes cometidos contra o futuro da humanidade.
E esses crimes, que uma certa burguesia corrompida e desbragada,teima em considerar naturais, jamais Einstein consideraria como preconceitos.
Além disso, muito cuidado: o racismo,como outros atentados contra a humanidade, como seja a exploração das mulheres, são pragas que continuam a envergonhar a raça humana.

proffil disse...

Mas realmente um preconceito é muito difícil de desintegrar, sempre. Não?

Pável Rodrigues disse...

Sim. Sim. Mas é criminoso utilizar a frase do Einsten para encobrir crimes, só porque os interessados os travestem de presconceitos.

proffil disse...

Bem, estava à pressa porque estava a fazer um e-mail com competências e essas coisas para o teste da semana que vem, mas agora volto para dizer que suponho que Einstein falava de preconceitos científicos, e não dos outros... Não sei bem que posição era a dele em relação à escravatura, condição feminina, racismo e exploração do homem pelo homem, etc etc. Mas de uma coisa tenho a certeza: todos nós temos os nossos preconceitos, tal como todas as épocas têm os seus próprios preconceitos de estimação, digamos assim. E esses temos que os vigiar com todo o cuidado.

Anônimo disse...

Concordo consigo anónimo quando diz: " o racismo,como outros atentados contra a humanidade, como seja a exploração das mulheres, são pragas que continuam a envergonhar a raça humana."
Acho que Einstin, pela ideia que tenho dele, chamava as coisas pelos nomes e a crimes ele certamente não chamaria perconceitos, chamaria crimes.

Sim um preconceito é sempre uma coisa muito dificil de desintegrar, a não ser que as pessoas consiam perceber que estão a ser perconceituosas e queiram mudar a atitude, neste caso é uma questão de consciencia, vontade e querer. Mas é sempre muito difici, porque as pessoas que são preconceituosas (talvez devido à educação...) nem sempre têm noção de são preconceituosas, acham que isso é natural (coisa que definitivamente não é) e por isso não fazem por mudar de atitude ou sabem que é preconceito mas não querem mudar porque acham que deve ser assim (coisa que não deve, defenitivamente).
O homem é dono dos seus actos e das suas atitudes e por isso é responsavel pelas suas atitudes.

Anônimo disse...

Sim proffil, mas acho que Einstein não se referia só aos preconceitos cientificos, mas também a outro tipo de prconceitos, não esqueçamos que o senhor era judeu e viveu na época da 2ª guerra mundial.

http://www.citador.pt/citador.php?Albert_Einstein=Albert_Einstein&cit=1&op=7&author=81&firstrec=0
Veja este site de citações.
E pelo que me parece Einstein obstervava o comportamento das pessoas e da sociedade.

Sim todos temos os nossos preconces de estimação e foi por isso que disse que se temos a consciencia de que os temos temos que os evitar e tentar mudar.
"Praticar o bem pelo bem." =D
O que é preciso em certos casos é boa vontade ;)

Anônimo disse...

Sugestão: "Como Vejo a Ciência, a Religião e o Mundo" Albert Einstein

proffil disse...

Vejo, anónimo das 21.35, que ainda tem bem presente o que aprendeu com Kant!... :)

Anônimo disse...

Kant é Kant e convenhamos que é bem mais interessante que lógica aristotelica ;)

proffil disse...

Anónimo das 21.37: obrigada pela sugestão de leitura.

Anônimo disse...

Sempre às ordens =D