6.06.2008

O problema da indução


O método científico pode ser encarado quer como um método indutivo, quer como método hipotético-dedutivo. Karl Popper é a favor de que se trata de um método hipotético-dedutivo e como tal apresenta inúmeras críticas ao método indutivo.
O indutivismo defende que existe, em primeiro lugar, uma observação pura e que as teorias científicas se obtêm mediante inferências indutivas: partindo-se do particular para o geral.
Por mais elevado que seja o número de afirmações particulares, não podemos garantir que as afirmações universais estarão correctas. Como exemplo, temos o caso dos cisnes que durante muito tempo foram considerados brancos até serem encontrados cisnes pretos.
Surge aqui o problema da indução: saber se as inferências indutivas estão ou não justificadas, e Popper apresenta algumas críticas a esta perspectiva do método.
Como primeira crítica, Popper defende que não existe observação pura. Os investigadores são sempre influenciados por outras teorias. Quanto mais a ciência avança, menos pura é a observação.
Em segundo lugar, afirma que os objectos da ciência, muitas vezes, não são observáveis, como foi durante muito tempo o caso dos átomos, electrões ou do ADN e, por isso, as teorias não podem ter sido desenvolvidas mediante generalizações indutivas baseadas na observação.
Como Popper não aceita o indutivismo, não se pode basear nos critérios indutivos que dão resposta ao problema da demarcação. Este problema consiste em definir a distinção entre teorias científicas e não científicas. Existem tradicionalmente dois critérios: a verificabilidade (verdadeiro se confirmado para todos os casos) e a confirmabilidade (verdadeiro apenas para alguns casos).
Em relação ao primeiro, Popper defende que este critério é inadequado para resolver o problema da demarcação, uma vez que não se podem observar todos os casos existentes e consequentemente não se pode formar uma lei absolutamente válida.
Como resposta a este problema, Popper afirma que as teorias científicas são meras conjecturas e que devem ser constantemente postas à prova, tendo em conta um critério de falsificabilidade. Uma teoria é científica, se e apenas se pode ser refutada pela experiência, logo não podemos dizer que a teoria científica é verdadeira mas apenas verosímil. Uma boa teoria científica é falsificável num grau elevado, ou seja, quanto mais informação ela tiver sobre o mundo maiores são as possibilidades de essa teoria ser refutada pela observação. A informação contida nas teorias tem de ser vasta e rigorosa para que esta possa ser refutada.
Karl Popper não se limita a encontrar solução para o problema da demarcação, como também apresenta três teses fundamentais da sua perspectiva que consiste no método das conjecturas e refutações.
Na primeira, considera que os problemas são o ponto de partida da investigação científica. Quando o investigador observa o mundo fá-lo de um modo selectivo, pois só lhe interessa observar aquilo que dá resposta ao seu problema.
Um cientista vai depois, numa segunda fase, criar conjecturas e hipóteses sugestivas decorrentes do problema. Quanto mais ousada a teoria melhor, pois a sua probabilidade de ser falsificada é maior.
Uma vez apresentada a ideia, extraem-se dela conclusões particulares através da dedução lógica. De seguida, estas conclusões são comparadas para se descobrir a relação entre elas (tais como equivalência, derivabilidade, compatibilidade ou incompatibilidade).
Numa terceira fase, um cientista procura refutar ou falsificar a teoria. Para a testar é preciso deduzir previsões empíricas e pô-las à prova através da observação. Se as previsões se revelarem incorrectas a teoria é refutada e o investigador procura uma hipótese melhor para resolver o problema. Se a previsão for correcta podemos dizer que até ao momento a teoria talvez seja verdadeira. Uma teoria que supera todas as tentativas de refutação diz-se corroborada pela experiência.
Concluindo, para Popper a indução não desempenha qualquer papel na investigação científica. A avaliação de teorias científicas consiste em tentativas de refutação e para isso basta submetê-las à experimentação. Parte-se de uma hipótese geral e submetemos à experimentação casos particulares deduzidos dessa mesma hipótese.
As leis científicas são conjecturas e podem ser refutadas a qualquer momento. Popper substitui a ideia de verificação ou confirmação pela de falsificação. As teorias científicas devem ser expostas à falsificação e o seu carácter de verdade está na capacidade de resistência à falsificação.
“Admitimos que a racionalidade consiste na atitude crítica e buscamos teorias que, embora falíveis, nos permitam progredir, ultrapassando as teorias precedentes: o que significa que são testadas com maior rigor, conseguindo resistir a alguns desses testes.” - Karl Popper
João S.
Marta P.

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