
§1
Para distinguir se algo é belo ou não, não referimos a sua representação ao objecto por meio do entendimento, com vista ao conhecimento; antes usamos a imaginação para referir a representação ao sujeito e ao seu sentimento de prazer ou desprazer. O juízo de gosto não é, pois, um juízo de conhecimento, e por conseguinte não é lógico, mas estético, o que significa que o fundamento que o determina não pode ser senão subjectivo.
Apreender pela nossa faculdade de conhecimento um edifício regular e conforme a determinados fins é algo completamente diferente de ter consciência desta representação acompanhada da sensação de prazer. Neste caso, a representação refere-se inteiramente ao sujeito e, mais importante, ao seu sentimento de vida, sob o nome de prazer ou desprazer.
§2
Chama-se interesse ao prazer que ligamos à representação da existência de um objecto. Por isso, um tal interesse envolve sempre ao mesmo tempo referência à faculdade de desejar. Todos temos que reconhecer que o juízo sobre a beleza ao qual se mistura o mínimo interesse é muito faccioso e não é um juízo de gosto puro. Não se tem de simpatizar minimamente com a existência da coisa, pelo contrário, tem de se ser completamente indiferente a esse respeito para, em matéria de gosto, desempenhar o papel de juiz.
§3
O agradável, o belo e o bom designam, portanto, três relações diversas entre as representações e o sentimento de prazer e desprazer.
Agradável é aquilo que nos satisfaz; belo é aquilo que simplesmente nos apraz; bom é aquilo que se estima ou se aprova, isto é, aquilo a que atribuímos um valor objectivo.
O juízo de gosto é meramente contemplativo, não sendo portanto fundado em conceitos.
De entre estas três espécies de prazer, pode dizer-se que só o gosto pelo belo é um prazer desinteressado e livre, pois nenhum interesse, seja dos sentidos seja da razão, exige aprovação.
Conclusão:
Gosto é a faculdade do juízo de um objecto ou representação mediante um prazer ou desprazer independente de todo o interesse. O objecto de tal prazer chama-se belo
Imanuel Kant, Crítica da Faculdade do Juízo (adaptado)
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