
Decapitação de Holofernes, de Caravaggio
A experiência estética engloba os sentimentos que o objecto nos provoca, sejam eles de prazer ou desprazer.
Escolhi este quadro, não pelo prazer que o quadro me transmite, pois presenciar um assassínio não me causa prazer algum, mas sim pelo realismo que a imagem ostenta, tal como se pode observar particularmente nas expressões dos rostos das pessoas.
O juízo estético que descreve a experiência estética que eu tive ao observar este quadro é: «Este quadro está magnifico, qualquer pequena parte pertencente a este quadro possui um realismo tal, que diria que estamos na presença de uma fotografia, de tal modo que me causa horror». Assim, e segundo Kant, o juízo estético articula vários conceitos relativos aos sentimentos de prazer/desprazer que a pessoa tem ao contemplar o objecto, sem envolver o entendimento, pois não produz conhecimentos. Sendo assim, a perspectiva de Kant nesta matéria enquadra-se no subjectivismo - a beleza do objecto depende do sujeito que o está a observar, é este que atribui ao objecto a característica de ser é belo ou não - e não no objectivismo, segundo o qual os objectos são belos ou não por causa das suas próprias características.
Quando alguém diz que gosta deste quadro, diz portanto que sente prazer ao observá-lo, simplesmente, sem qualquer outro interesse envolvido. Aliás é o factor do desinteresse que faz desta experiência uma experiência estética: se eu olhar para ele com a intenção de o avaliar como investimento, para o comprar ou vender, já não estou em atitude estética, e portanto já não será uma experiência estética.
Considero que este quadro é belo, e isso significa que ele me agrada pela sua qualidade estética, gosto que é independente da razão e não necessita da aprovação desta.
Este quadro podia satisfazer a teoria da arte como expressão, pois a cena transmite com força os sentimentos das pessoas que retrata e faz-nos sentir o horror que acompanha o assassínio.
A expressão das pessoas envolvidas, tanto do homem como das mulheres, é muito realista, assim como os pormenores como o de uma delas estar preparada para embrulhar a cabeça de Holofernes num pano. Sentimos que não é fácil fazer isto. Sentimos que é horrível.
Sara Cabral, 10ºA - 2007
Um comentário:
Apesar do modo realista, trata-se de uma famosa cena bíblica e portanto Caravaggio (1571-1610), o pintor, nunca poderia ter assistido a ela. É uma história que é apresentada na Bíblia como um exemplo de virtude, pois esta mulher arriscou-se pelo seu povo, matando aquele que o tinha escravizado. Assim, Caravaggio pode ter–se inspirado nas pessoas que conhecia para pintar este quadro, mas na realidade não é uma cópia, pois ele introduziu na cena os elementos que considerou necessários para exprimir o significado do acto da mulher: por exemplo, percebemos que ela não mata por prazer, mas porque vê nisso um dever. A expressão dela mostra isso mesmo. Vemos que ele soube exprimir bem tudo isso: o horror, o medo, a aflição, e a certeza de que matar aquele homem era um dever.
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